Março=> Poesia
No azul da décima nona manhã de Março a figura de Narciso:
Narciso
Ouço dizer que as águas cantam o amor, correndo,
e que nas suas margens há arbustos debruçando
tristezas profundas. Mas nem as águas nem o vento
nos arbustos me falam de mim; eu que solitário
me debruço numa ânsia de tocar-me, e o rosto perco
no abismo da superfície; que o segredo que oculto
em mim persigo, num silêncio me evocando entre
os alheios rumores da vida; e que o tempo esqueço,
absorto na minha própria alma que obscureço.
Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985), (Lisboa, Quetzal, 1991), p.281
Mais Padre Ruivo
Ontem, sempre que podia, ouvia Le Cantate , ( Parte Prima, Rossana Bertini, soprano, Tactus, 1999) do padre dos meus sonhos.
Perdoem a presunção, mas gostaria de poder viajar no tempo e tornar-me uma das virtuosas pupilas da Pietà, quiçá mesmo a célebre Anna Maria dal violin, e executar as composições do meu muito bem amado sacerdote.
***
Sonata
ERA uma noite como outra qualquer. Dois seres dependentes da solidão e do álcool na ressaca de amores impossíveis, tomaram-se, com displicência, por instrumentos de prazer. Esquecidos da angústia improvisaram uma fugaz sonata à eternidade da volúpia.
No azul da décima nona manhã de Março a figura de Narciso:
Narciso
Ouço dizer que as águas cantam o amor, correndo,
e que nas suas margens há arbustos debruçando
tristezas profundas. Mas nem as águas nem o vento
nos arbustos me falam de mim; eu que solitário
me debruço numa ânsia de tocar-me, e o rosto perco
no abismo da superfície; que o segredo que oculto
em mim persigo, num silêncio me evocando entre
os alheios rumores da vida; e que o tempo esqueço,
absorto na minha própria alma que obscureço.
Nuno Júdice, Obra Poética (1972-1985), (Lisboa, Quetzal, 1991), p.281
Mais Padre Ruivo
Ontem, sempre que podia, ouvia Le Cantate , ( Parte Prima, Rossana Bertini, soprano, Tactus, 1999) do padre dos meus sonhos.
Perdoem a presunção, mas gostaria de poder viajar no tempo e tornar-me uma das virtuosas pupilas da Pietà, quiçá mesmo a célebre Anna Maria dal violin, e executar as composições do meu muito bem amado sacerdote.
***
Sonata
ERA uma noite como outra qualquer. Dois seres dependentes da solidão e do álcool na ressaca de amores impossíveis, tomaram-se, com displicência, por instrumentos de prazer. Esquecidos da angústia improvisaram uma fugaz sonata à eternidade da volúpia.
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