Março=> Poesia

Na vigésima quarta manhã de Março um poema com sabor filosófico:

Quem me amarrou a ser eu
Fez-me uma grande partida.
Debaixo deste amplo céu,
Não tenho vinda nem ida.
Sou apenas um ser meu.

Nem isso... Anda tudo à volta
A retirar-me de mim.
Parece-me uma fera à solta.
Este mundo que anda assim
A servir-me de má escolta.

Quando encontrar a verdade
Hei-de ver se hei-de fugir,
Pelo menos em metade.
Depois ficarei a rir
Da minha tranquilidade.


Fernando Pessoa, Novas Poesias Inéditas, (Lisboa, Ática, 1979), p.105.

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