História da Filosofia Moderna
A Gnosiologia de Hobbes (Westport ,1588- Hardwick, 1679)
e as Objecções a Descartes (4)
Penso, consequentemente, sou pensante. Na verdade, se penso sou, aquele que pensa não é um nada, sublinha Hobbes, aprovando o raciocínio cartesiano. Na sequência do discurso de Descartes, e como inferência lógica, Hobbes conclui que Descartes identificou a coisa inteligente com o próprio acto da intelecção. Em tom jocoso adverte, se afirmo sou pensante, logo sou um pensamento, será lícito deduzir sou um passeante, logo sou um passeio. Descartes teria confundido coisa pensante com a faculdade do entendimento.
Ora sempre se distinguiu o sujeito das suas faculdades e actos, das suas propriedades e essências. Uma coisa é a coisa mesma que pensa e outra a sua essência. (Na quarta objecção Hobbes postulará que a essência é uma fantasia do nosso espírito. A essência penas teria razão de ser relativamente à existência).
Num plano, primeiramente hipotético, Hobbes avança com a perspectiva da corporeidade da coisa pensante: a coisa pensante, segundo o inglês, deverá ser corpórea, pois o contrário, a sua imaterialidade, ainda não teria sido provada.
Existo, depende do eu penso, correcto. Mas, de onde provirá o conhecimento do eu penso?
Gradualmente, evidencia-se a interpretação de Hobbes, subjacente à sequência lógica patente na forma como se articula a segunda objcção. Não podemos conceber actos sem sujeito, nem o pensamento sem coisa pensante, o passeio sem uma coisa que passeie ou seja um sujeito dos actos, entendido segundo uma razão corpórea. A partir do discurso cartesiano e servindo-se do exemplo da cera , Hobbes extraiu, com habilidade, premissas conducentes à sua tese: há sempre, afirmou, algo que permanece, que subsiste para além de todas as transformações operadas na cera, algo de material que perdura. Um pensamento nunca é sujeito de outro pensamento, uma coisa que pensa é qualquer coisa corpórea, insistiu. Não podemos separar o pensamento de uma matéria que pensa, assim torna-se forçoso inferir que a coisa pensante é material e não imaterial como pretendia Descartes.
O filósofo francês ao declarar sou uma coisa pensante, um espírito, uma razão, um entendimento pretenderia significar a própria coisa que entende, visaria isolar esta substância espiritual e imaterial separando-a das coisas corpóreas. O eu penso logo existo seria uma intuição patente no espírito que apreenderia de forma imediata a passagem do pensamento à existência.
A posição de Hobbes, seria contrária a toda a boa lógica, ripostou Descartes. Na verdade, não existe pensamento sem coisa pensante, mas seria erróneo afirmar que a coisa pensante é corpórea. E passa a explicitar a sua perspectiva estabelecendo a diferença, em seu entender fundamental e explícita nas Meditações, entre coisas corpóreas e coisas intelectuais.
A terceira objecção prossegue a problemática da segunda. O meu pensamento não está separado de mim, todavia é diferente de mim do mesmo modo que o passeio é distinto daquele que passeia. Descartes raciocionaria escolasticamente, ao afirmar que o entendimento entende, do mesmo modo dizer aquele que entende e o entendimento formam uma mesma coisa é uma afirmação obscura.
A Gnosiologia de Hobbes (Westport ,1588- Hardwick, 1679)
e as Objecções a Descartes (4)
Penso, consequentemente, sou pensante. Na verdade, se penso sou, aquele que pensa não é um nada, sublinha Hobbes, aprovando o raciocínio cartesiano. Na sequência do discurso de Descartes, e como inferência lógica, Hobbes conclui que Descartes identificou a coisa inteligente com o próprio acto da intelecção. Em tom jocoso adverte, se afirmo sou pensante, logo sou um pensamento, será lícito deduzir sou um passeante, logo sou um passeio. Descartes teria confundido coisa pensante com a faculdade do entendimento.
Ora sempre se distinguiu o sujeito das suas faculdades e actos, das suas propriedades e essências. Uma coisa é a coisa mesma que pensa e outra a sua essência. (Na quarta objecção Hobbes postulará que a essência é uma fantasia do nosso espírito. A essência penas teria razão de ser relativamente à existência).
Num plano, primeiramente hipotético, Hobbes avança com a perspectiva da corporeidade da coisa pensante: a coisa pensante, segundo o inglês, deverá ser corpórea, pois o contrário, a sua imaterialidade, ainda não teria sido provada.
Existo, depende do eu penso, correcto. Mas, de onde provirá o conhecimento do eu penso?
Gradualmente, evidencia-se a interpretação de Hobbes, subjacente à sequência lógica patente na forma como se articula a segunda objcção. Não podemos conceber actos sem sujeito, nem o pensamento sem coisa pensante, o passeio sem uma coisa que passeie ou seja um sujeito dos actos, entendido segundo uma razão corpórea. A partir do discurso cartesiano e servindo-se do exemplo da cera , Hobbes extraiu, com habilidade, premissas conducentes à sua tese: há sempre, afirmou, algo que permanece, que subsiste para além de todas as transformações operadas na cera, algo de material que perdura. Um pensamento nunca é sujeito de outro pensamento, uma coisa que pensa é qualquer coisa corpórea, insistiu. Não podemos separar o pensamento de uma matéria que pensa, assim torna-se forçoso inferir que a coisa pensante é material e não imaterial como pretendia Descartes.
O filósofo francês ao declarar sou uma coisa pensante, um espírito, uma razão, um entendimento pretenderia significar a própria coisa que entende, visaria isolar esta substância espiritual e imaterial separando-a das coisas corpóreas. O eu penso logo existo seria uma intuição patente no espírito que apreenderia de forma imediata a passagem do pensamento à existência.
A posição de Hobbes, seria contrária a toda a boa lógica, ripostou Descartes. Na verdade, não existe pensamento sem coisa pensante, mas seria erróneo afirmar que a coisa pensante é corpórea. E passa a explicitar a sua perspectiva estabelecendo a diferença, em seu entender fundamental e explícita nas Meditações, entre coisas corpóreas e coisas intelectuais.
A terceira objecção prossegue a problemática da segunda. O meu pensamento não está separado de mim, todavia é diferente de mim do mesmo modo que o passeio é distinto daquele que passeia. Descartes raciocionaria escolasticamente, ao afirmar que o entendimento entende, do mesmo modo dizer aquele que entende e o entendimento formam uma mesma coisa é uma afirmação obscura.
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