Eros e Psyche
Ontem não referi, mas é importante que o faça, agora. O livro de Bernardo Pinto de Almeida de onde retirei o poema "Eros vagueando pelas ruas à noite ..." tem por horizonte temático o mito de Psyche e Eros, transposto para a contemporaneidade.
A propósito, vou citar algumas considerações de Marguerite Yourcenar sobre a referida narrativa:
"Psyche desposou o desconhecido. Acaricia-o, mas não lhe viu o rosto. O corpo daquele que repousa a seu lado todas as noites, na escuridão, toma a forma do mais belo sonho. O amor, esse mel das trevas.
Uma mulher feliz teria adormecido, mas o sono não pode aflorar Psyche. Esse corpo deitado na sombra assusta-o como um cadáver. Decide acender a lâmpada.
Ter julgado unir-se ao Infinito e não achar senão um ser. O palácio de Psyche é menos vasto do que se pensava; basta um suspiro para que tudo se desmorone. Paredes e tectos, que a pressão de um fervor deixou de sustentar.
Disse-se que Psyche tinha asas de borboleta, mas a sua alma é de abelha. Essa obreira reconstruirá o seu palácio, alvéolo por alvéolo. Habituar-se-à até a amar o Amor."
Marguerite Yourcenar, "O Catálogo dos Ídolos," in Marguerite Yourcenar, Peregrino e Estrangeiro, (Lisboa, Livros do Brasil, 1990), p. 144.
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