Março => Poesia

Na sexta manhã de Março outro poema de Li Po ou Rihaku, na versão de Ezra Pound. As traduções de Ezra Pound são polémicas para muitos, contudo segundo o sinólogo Wai-lim Yip: "não só filologicamente correctas como esteticamente certas." (1)

Poema junto à ponte em Ten-shin

Março chegou ao contraforte da ponte,
Sobre mil portões pendem ramos de pêssegos e de alperces,
Pela manhã há flores de cortar o coração,
E ao anoitecer leva-as com as águas para leste.
Há pétalas nas águas já passadas e nas que passam,
E no retornar dos redemoinhos,
Mas os homens de hoje não são os homens de outros tempos,
Embora de modo igual se debrucem sobre a ponte.

A cor do mar move-se ao amanhecer
E os princípes ainda estão em filas, junto ao trono,
E a lua cai sobre os portais de Sei-jo-yo,
E pega-se às paredes e ao topo do portão.
Com capacetes cintilantes contra a nuvem e o sol
Os nobres saem da corte, para fronteiras distantes.
Montam cavalos que parecem dragões,
Cavalos com cabeçadas de metal amarelo,
E as ruas abrem alas para que passem.
Altiva a sua passagem,
Altivos os seus passos a caminho dos banquetes,
Dos grandes salões com comida esquisita,
Do ar perfumado e raparigas a dançar,
Das flautas límpidas e do cantar límpido;
Da dança dos setenta pares;
Das perseguições loucas pelos jardins.
A noite e o dia são dados ao prazer
Que eles pensam durará por mil Outonos,
Inesgotáveis Outonos.
Para eles os cães amarelos uivam presságios em vão,
E que são eles comparados com a senhora Ryokushu,
Que foi a causa de ódio!
Quem entre eles é um homem como Han-rei
Que partiu sozinho com a amante,
Ela e cabelo solto, e ele o seu próprio barqueiro!


(1) Ezra Pound, Cathay, Tradução e Introdução de Gualter Cunha, (Lisboa, Relógio D'Água, 1995), p.18.
Poema pp. 38-41

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