Março=> Poesia

Na névoa da décima sétima manhã de Março, a voz de Henri Michaux:

À Espera

Um ser doido,
um ser farol, um ser mil vezes suprimido,
um ser exilado do fundo do horizonte,
um ser gritando do fundo do horizonte,
um ser magro,
um ser íntegro,
um ser altivo,
um ser que quereria ser,
um ser na batida de duas épocas que se entrechocam,
um ser nos gases venenosos das consciências que
[sucumbem,
um ser como no primeiro dia,
um ser...


Observações de Henri Michaux

"Escrevo para me percorrer. Pintar, compor, escrever: percorrer-me. Reside nisto a aventura de estar vivo."

Gosta de alguém, admira-o? Tente de preferência produzir em si aquilo que de tão extraordinário lhe parece no outro."

Henri Michaux, O Retiro pelo Risco, (Lisboa, Fenda, 1999), pp. 62 e 85

Impressões de ontem

Mais uma vez os cachos de glicínias penduram-se no muro do jardim público e perfumam a tarde.

Ao fim do dia comi figos secos e toucinho do céu, bebi chá preto, comprei um livro. Na livraria, dizia-me o Zé em tom de chacota: "Só queria ser professor de filosofia e ter um estagiário sui generis."

Aforismos

O amor deve ser leve para quem ama e, em especial, para quem é amado.

Um não é uma resposta tão boa quanto um sim.

Ontem era manhã, ontem era noite, ontem ouvia uma palestra, ontem ouvia jazz. Hoje é manhã, hoje será tarde e noite, amanhã acordarei morta.

A volatilidade de tudo e a eternidade de tudo.

Corpo lugar de encontro da sede e da fonte, da ânsia e da paz.

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