Oníricas (36) - Freud e Jung

Já foi aqui referido, por CSA -num comentário - que Freud qualificava os sonhos como sendo a "via regia" de acesso ao inconsciente. Freud recorria à análise dos sonhos dos seus pacientes para os fazer tomar consciência das suas pulsões sexuais, cujo recalcamento constituiria, segundo a sua interpretação, a essência mesma das perturbações nevróticas. De acordo com a sua concepção, os sonhos contém, sob uma forma velada, alusões a desejos pulsionais dos quais poderíamos estar conscientes se as coisas decorressem bem. Assim, Freud ao decifrar o conteúdo manifesto do sonho, procurava explicitar o seu conteúdo latente desmistificando o seu significado oculto. Jung não aceitou as teses freudianas quanto à interpretação dos sonhos. Conjecturou que os sonhos conteriam um factor essencialmente desconhecido, intrínseco ao fundo da alma inconsciente, que deveria ser sujeito a uma investigação experimental.
Neste sentido, Jung considerou como devidamente fundamentados pelos factos, os seguintes aspectos:

O sonho teria a sua origem em duas fontes diferentes: de um lado os conteúdos conscientes como as impressões recebidas ao longo do dia, e por outro os conteúdos inerentes ao inconsciente. Estes últimos dividir-se-iam em duas categorias:

As constelações provocadas pelos conteúdos conscientes e as constelações decorrentes de processos criativos no próprio inconsciente.

Com base nestes pressupostos, a significação dos sonhos poderia formular-se do seguinte modo:

O sonho constituiria uma reacção inconsciente a uma situação consciente; representaria uma situação que resultaria de um conflito entre a consciência e o inconsciente; manifestaria uma tendência do inconsciente, que procuraria provocar uma mudança na atitude consciente; por último, representaria os processos inconscientes que impediriam o estabelecimento de laços entre eles e a consciência. Estes processos poderiam ter uma ou múltiplas causas somáticas ou derivar de fontes psíquicas criativas.
Tais processos teriam por fundamento, quer os acontecimentos implicados no ambiente físico ou psíquico do sujeito, quer os acontecimentos pertencentes ao seu passado ou ao seu futuro.



C.G.Jung, L'Âme et la vie, (Paris,Buchet/Chastel, 1963).
Marie-Louise von Franz, Rêves d'hier et d'aujourd'hui, (Paris, Albin Michel,1992).

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