"O que quer uma Mulher?" Perguntava Freud (3)
Concepções de Freud sobre a Feminilidade
Embora Freud tenha evidenciado a ligação entre cultura e sexualidade, preconizando que o sexo biológico seria insuficiente para determinar o género e explicitado que a pulsão não se identifica com o instinto animal, dada a sua mobilidade e a sua indeterminação em função dos condicionamentos sociais. Por outro lado, foi tributário dos paradigmas científicos dominantes no século XIX, e da herança iluminista, quanto à definição do humano com base nos dois grandes conceitos universais de razão e natureza. No que concerne, por exemplo, à questão da diferença sexual, a dicotomia entre razão e natureza projectou-se na diferenciação estabelecida, pelo fundador da psicanálise, entre o estatuto do homem e o da mulher. O homem freudiano define-se pelo seu papel na manutenção da ordem social e na construção da cultura, enquanto a mulher, "ser de natureza" se caracteriza pela dimensão intrinsecamente corpórea veiculada e vinculada à função reprodutora. A mulher freudiana pouco difere da mulher descrita por Rousseau, um ser de natureza, a quem é preciso coibir, inibir, refrear, de modo a desenvolver o pudor e o recato sexuais capazes de sustentar o homem numa posição viril.
Freud começou por descrever o desenvolvimento da sexualidade infantil feminina de modo simétrico ao da masculina, nomeadamente no que diz respeito ao complexo de Édipo, pressupondo na rapariga um processo análogo ao do rapaz. A partir de 1923 e sobretudo de 1925 Freud irá teorizar sobre a assimetria do Édipo nos dois sexos, mas reafirmando sempre a predominância do falo e o masoquismo da mulher.
O texto de Karl Abraham “Manifestações do complexo de castração na mulher “ (1920), vai desencadear a polémica, dentro do movimento psicanalítico, sobre a mulher, que os três artigos de Freud “A Organização Genital Infantil” (1923) e ,“A Dissolução do Complexo de Édipo” (1924) e “O Problema Económico do Masoquismo”, irão alimentar.
Foi no texto de 1923 “A Organização Genital Infantil”que Freud ao retomar a temática do artigo de 1908, As Teorias Sexuais das Crianças” - em que teorizava sobre a universalidade do falo - postulou, explicitamente, o primado do mesmo.
A posição freudiana caracteriza-se, em termos gerais por atribuir aos dois sexos uma mesma evolução psicossexual até à entrada na fase fálica. Até aí o rapaz e a rapariga acreditariam que possuem um pénis, ao qual se afeiçoariam de modo narcísico. A reacção da rapariga perante a evidência da sua inferioridade anatómica seria o sentimento de inveja. Elas notam o pénis de um irmão ou companheiro de brinquedo, notavelmente visível e de grandes proporções, e imediatamente o identificam com o correspondente superior de seu próprio órgão pequeno e imperceptível; dessa ocasião em diante caem vítimas da inveja do pénis. Daqui resultariam três orientações possíveis de desenvolvimento: estranheza ou repressão da sexualidade; complexo de masculinidade e recusa da feminilidade. Abraham defendeu teses idênticas no artigo de 1920. Por outro lado, as diferenças anatómicas entre os dois sexos determinariam uma diferente situação edípica para cada um deles: o temor de castração no rapaz e a concomitante renúncia às fantasias incestuosas, e a dissolução do Édipo. A rapariga por seu turno, não lograria recear a castração, uma vez que, a mesma já teria ocorrido – em 1924 ,“A Dissolução do Complexo de Édipo” afirmou: “A diferença essencial será pois que a rapariga aceita o facto consumado enquanto que os rapazes temem a sua ocorrência” e assim o seu ressentimento contra a mãe por a ter tido “incompleta”, voltar-se-ia contra o pai, em busca de um falo e depois de um filho. A superação do Édipo seria mais lenta na rapariga do que no rapaz, se é que efectivamente se dará, já que falta à rapariga o medo de perder o falo. No artigo “Algumas Consequências Psíquicas da Diferença Anatómica entre os Sexos” , apresentado pela filha Anna no 9º Congresso Internacional de Psicanálise em Salzbourg, Freud fundamentou deste modo a sua convicção de que o super-ego das mulheres seria mais lábil. Relacionado com o complexo de castração está o conceito de masoquismo feminino, “ser mulher significaria ser castrado, possuído, parir. Freud retoma, deste modo Krafft-Ebing, ao preconizar a subordinação natural da mulher, em virtude das suas funções reprodutoras. O masoquismo é considerado uma das características do comportamento feminino.
As teorizações de Freud despoletaram a polémica na comunidade psicanalítica, opondo Viena e Londres dando origem ao que Lacan viria a designar por “querela do falo”, que terminou em 1935 com uma lição de Ernest Jones em Viena.
Entre 1920 e 1935, a partir do falocentrismo de Freud, e dos textos cruciais, para a eclosão e o desenvolvimento do debate, de Karl Abraham, os diferentes psicanalistas, em Congressos Internacionais, em colóquios das Sociedades locais e nas Revistas especializadas, confrontaram argumentos em prol, ou contra as concepções de Freud.
Embora Freud tenha evidenciado a ligação entre cultura e sexualidade, preconizando que o sexo biológico seria insuficiente para determinar o género e explicitado que a pulsão não se identifica com o instinto animal, dada a sua mobilidade e a sua indeterminação em função dos condicionamentos sociais. Por outro lado, foi tributário dos paradigmas científicos dominantes no século XIX, e da herança iluminista, quanto à definição do humano com base nos dois grandes conceitos universais de razão e natureza. No que concerne, por exemplo, à questão da diferença sexual, a dicotomia entre razão e natureza projectou-se na diferenciação estabelecida, pelo fundador da psicanálise, entre o estatuto do homem e o da mulher. O homem freudiano define-se pelo seu papel na manutenção da ordem social e na construção da cultura, enquanto a mulher, "ser de natureza" se caracteriza pela dimensão intrinsecamente corpórea veiculada e vinculada à função reprodutora. A mulher freudiana pouco difere da mulher descrita por Rousseau, um ser de natureza, a quem é preciso coibir, inibir, refrear, de modo a desenvolver o pudor e o recato sexuais capazes de sustentar o homem numa posição viril.
Freud começou por descrever o desenvolvimento da sexualidade infantil feminina de modo simétrico ao da masculina, nomeadamente no que diz respeito ao complexo de Édipo, pressupondo na rapariga um processo análogo ao do rapaz. A partir de 1923 e sobretudo de 1925 Freud irá teorizar sobre a assimetria do Édipo nos dois sexos, mas reafirmando sempre a predominância do falo e o masoquismo da mulher.
O texto de Karl Abraham “Manifestações do complexo de castração na mulher “ (1920), vai desencadear a polémica, dentro do movimento psicanalítico, sobre a mulher, que os três artigos de Freud “A Organização Genital Infantil” (1923) e ,“A Dissolução do Complexo de Édipo” (1924) e “O Problema Económico do Masoquismo”, irão alimentar.
Foi no texto de 1923 “A Organização Genital Infantil”que Freud ao retomar a temática do artigo de 1908, As Teorias Sexuais das Crianças” - em que teorizava sobre a universalidade do falo - postulou, explicitamente, o primado do mesmo.
A posição freudiana caracteriza-se, em termos gerais por atribuir aos dois sexos uma mesma evolução psicossexual até à entrada na fase fálica. Até aí o rapaz e a rapariga acreditariam que possuem um pénis, ao qual se afeiçoariam de modo narcísico. A reacção da rapariga perante a evidência da sua inferioridade anatómica seria o sentimento de inveja. Elas notam o pénis de um irmão ou companheiro de brinquedo, notavelmente visível e de grandes proporções, e imediatamente o identificam com o correspondente superior de seu próprio órgão pequeno e imperceptível; dessa ocasião em diante caem vítimas da inveja do pénis. Daqui resultariam três orientações possíveis de desenvolvimento: estranheza ou repressão da sexualidade; complexo de masculinidade e recusa da feminilidade. Abraham defendeu teses idênticas no artigo de 1920. Por outro lado, as diferenças anatómicas entre os dois sexos determinariam uma diferente situação edípica para cada um deles: o temor de castração no rapaz e a concomitante renúncia às fantasias incestuosas, e a dissolução do Édipo. A rapariga por seu turno, não lograria recear a castração, uma vez que, a mesma já teria ocorrido – em 1924 ,“A Dissolução do Complexo de Édipo” afirmou: “A diferença essencial será pois que a rapariga aceita o facto consumado enquanto que os rapazes temem a sua ocorrência” e assim o seu ressentimento contra a mãe por a ter tido “incompleta”, voltar-se-ia contra o pai, em busca de um falo e depois de um filho. A superação do Édipo seria mais lenta na rapariga do que no rapaz, se é que efectivamente se dará, já que falta à rapariga o medo de perder o falo. No artigo “Algumas Consequências Psíquicas da Diferença Anatómica entre os Sexos” , apresentado pela filha Anna no 9º Congresso Internacional de Psicanálise em Salzbourg, Freud fundamentou deste modo a sua convicção de que o super-ego das mulheres seria mais lábil. Relacionado com o complexo de castração está o conceito de masoquismo feminino, “ser mulher significaria ser castrado, possuído, parir. Freud retoma, deste modo Krafft-Ebing, ao preconizar a subordinação natural da mulher, em virtude das suas funções reprodutoras. O masoquismo é considerado uma das características do comportamento feminino.
As teorizações de Freud despoletaram a polémica na comunidade psicanalítica, opondo Viena e Londres dando origem ao que Lacan viria a designar por “querela do falo”, que terminou em 1935 com uma lição de Ernest Jones em Viena.
Entre 1920 e 1935, a partir do falocentrismo de Freud, e dos textos cruciais, para a eclosão e o desenvolvimento do debate, de Karl Abraham, os diferentes psicanalistas, em Congressos Internacionais, em colóquios das Sociedades locais e nas Revistas especializadas, confrontaram argumentos em prol, ou contra as concepções de Freud.
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