Oníricas (18) Max Ernst e Hermann Hesse: Visôes
Max ERNST (1891-1976), Vision provoquée par l'aspect nocturne de la Porte de Saint-Denis (1927),Frottage huile/toile, 60x82cm Coll. Marcel Mabille, Bruxelles.
"O que mais me preocupava, no entanto, era aquela alucinação ou visão junto ao muro da igreja, a auspiciosa predição daquela insignía luminosa e dançante, que coincidia com alusões do tratado. Muito me fora então prometido, as vozes daquele mundo estranho tinham espicaçado violentamente a minha curiosidade, muitas vezes meditava em tudo aquilo, recolhido e mergulhado horas a fio nos meus pensamentos. E o aviso daqueles dizeres falava-me com clarezasempre maior: "Não para todos!" E "Só para loucos!" Eu devia realmente estar louco, e bem afastado de "todos", se aquelas vozes me atingiam, se aqueles mundos me falavam. Meu Deus!, então eu não estava há muito segregado e demente? No entanto, no meu íntimo eu entendia bem o apelo, a incitação à loucura, ao desapego da razão, dos escrúpulos, do burguesismo, ao abandono ao mundo flutuante e sem lei da alma e da fantasia.
Hermann Hesse, O Lobo das Estepes, (Lisboa, Círculo de Leitores, 1990), p.66
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