Aporias(6)


Tomás (hesitante) - Espero que cumpras a promessa. A minha síntese está a terminar.
Todavia, antes de continuar, quero reforçar alguns, não todos esclareça-se dos teus argumentos. Hoje, qualquer miúdo da escola sabe que um corpo pesado e um corpo leve caem juntos. Mas o miúdo está errado assim como a história também está. No mundo de todos os dias, como Aristóteles viu, os corpos pesados caem mais depressa do que os leves. Essa é a percepção primitiva. A lei de Galileu é mais útil para a ciência do que a de Aristóteles, não porque represente mais perfeitamente a experiência, mas porque vai atrás da regularidade superficial revelada pelos sentidos para um aspecto do movimento mais essencial, embora escondido. Para verificar a lei de Galileu através da observação, é necessário equipamento especial: só os sentidos não negarão nem confirmarão. O próprio Galileu não obteve a lei com base nos dados observados, mas de uma série de argumentos lógicos. Provavelmente não efectuou a experiência da torre de Pisa. Essa foi realizada por um dos seus críticos e o resultado apoiou Aristóteles, o corpo mais pesado chegou primeiro ao solo.
O movimento do primeiro céu deve-se à acção do primeiro motor, operando enquanto objecto de desejo. Como para Aristóteles o espaço é finito, não existe nele o vazio, o movimento uniforme, deve ser em linha recta ou em círculo, e a rotação uniforme deuma esfera é o único movimento susceptível de durar eternamente, sem mudança de direcção e sem exigir quer o vazio quer um espaço infinito, até porque um espaço infinito não tem centro, cada ponto está a igual distância de todos os pontos da periferia, e se não existir centro, a terra, logicamente deixa de o ser, deixa de haver para cima e para baixo, como determinantes do movimento natural, a noção de lugar natural torna-se absurda e todo o sistema se desmorona... Prosseguindo, torna-se viável para Aristóteles, deduzir a existência da esfera celestial e explicar a sua rotação como sendo a maior aproximação possível de uma coisa corpórea à actividade eterna imutável do autoconhecimento divino. A astronomia dá lugar à teologia.
No entanto, ele não defende a tese de um deus criador nem providente, até porque a matéria é incriada e existiu desde sempre, como um infinito negativo, uma pura potência, paralelamente à inteligência divina, que a move e ordena, impulsionando indirectamente todo o universo, ele não se interessa pelos outros seres.

Paulo (interessado) - Descreve mais detalhadamente as características e funções do primeiro motor.

Tomás (satisfeito) - Ainda bem que as minhas pesquisas te despertam interesse! Mas delego, essa incumbência numa especialista, na metafísica de Aristóteles que, entretanto se nos vem juntar...

Susana ( em tom de brincadeira) - Com que então a furtar-se a mais explicações! Desde que o Paulo não se importe, terei todo o gosto em substituir-te.

Paulo ( aprovativo) - Não tenho qualquer objecção a fazer, porque o meu interesse é pura curiosidade intelectual, não tenho preferências por um determinado professor em particular. Quanto à minha apreciação da tua intervenção Tomás, penso que é brilhante mas um tanto enfadonha e quiçá enciclopédica
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Tomás - Eu apenas resumi e empacotei algumas linhas orientadoras, não mencionei inclusivamente as interpretações, as falsificações, as omissões e os usos e abusos que fizeram de Aristóteles, os medievais, por exemplo S.Tomás de Aquino, esqueceu-se da matéria eterna e incriada entre outras aporias. Na escrita tentarei ser mais sugestivo. Mas passemos a palavra à Susana.

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