Confidências e Desabafos de Savarin (82)

Caneja de Infundice da Ericeira

JP desconhecia a bizarra iguaria ... movido pela curiosidade motivada, por seu turno pelo teu comentário, fiz uma busca rápida e encontrei estas informações.

Curiosidades sobre a Ericeira


Nos princípios das nossas preocupações de comerciantes e de viajantes conquistadores por esses mundos fora, era muito importante encontrar alimentos que se pudessem guardar algum tempo e que fossem relativamente baratos.

Surgiu assim, na Ericeira, um prato chamado "Caneja". De seu nome completo "Caneja de infundice", que é feito com um peixe chamado "caneja".

Origem da Caneja de Infundice

Ora, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Moderna, da Academia das Ciências de Lisboa, "caneja" é o nome vulgar dos peixes do género Mustelo, semelhantes ao cação, frequentes e até assíduos, na costa Portuguesa.

R. Brandão falava deles no seu livro "Pescadores" nas páginas 39 e seguintes, quando dizia: "A pescada falta: o mar dá caneja (cações), sardas e sarapintadas melcas"...

Por ser preservada em sal, a "caneja" era também alimento que os marinheiros das descobertas não desprezavam. Depois de salgada, é posta ao ar durante duas semanas, pelo que seca mas cheira muito mal. Depois é cozido o peixe mas tudo em redor fica com mau cheiro.

Deve ser daí que vem o termo "infundice". Ou pode vir do facto de o peixe ser infundido em água saturada com sal para o preservar e ajudar a secar ao ar.


Dica de Vasco dAvillez, Presidente da Viniportugal


Mais :


Raridade Gastronómica da Ericeira


Nota: A caneja, também designada por "pata roxa"
ou "pinta roxa", é um peixe com o qual se confecciona na Ericeira um petisco único no país e
não aconselhável a palatos sensíveis,
constituindo assim uma raridade gastronómica.
A dimensão ideal da caneja ronda os 60 cm.

Tira-se a pele da caneja, corta-se em postas presas
ou ligadas pelas barrigas
ou ventrejas, lavando-se (de preferência com àgua do mar limpa), salpicando-se com um pouco de sal, embrulhando-se numa serapilheira
(com trapos brancos entalados nos cortes das postas)
e colocando-se a curtir em sitio escuro e
fresco durante cerca de 8 a 15 dias
(de preferência entre Outubro e Março).
Coze-se em àgua com sal.
É acompanhada com batata cozida com pele,
cortada ao meio e temperada com azeite.
Quando bem curtido, o peixe apresenta reflexos de madrepérola.
O azeite torna-se branco em contacto com a caneja cozida
e esta exala um acentuado travo amoniacal que provoca
a oclusão das fossas nasais no céu da boca.
Acompanha-se com vinho tinto, o qual, por pior qualidade que tenha,
fica com um sabor adocicado como se se tratasse
de um vinho adamado.

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