A Linguagem dos Cheiros — Breves apontamentos sobre as sensações olfactivas


1. A visão/imagem é a imperatriz do momento, mas os cheiros são incontornáveis…

A comunicação olfactiva é a mais precoce de todas. Funcional desde o nascimento, o olfacto é também o sentido que perdura durante mais tempo. Enquanto o declínio da visão e da audição se observa desde muito cedo no homem, só a partir dos 80 anos é que a sensibilidade olfactiva diminui.
Os aromas da floresta são sedativos, nomeadamente, os de pinheiro e de eucalipto, sobretudo na Primavera. A essência de rosa tem uma acção, limitada mas, efectiva de activação do nervo parassimpático e de inibição sobre o nervo simpático. Ver Stavrie Economides,“Le Langage des Odeurs,” Science et Vie, Les Cinq Sens, 158, (Março, 1987), 132-138.
Jean-Jacques Rousseau, afirmou: "O olfacto é o sentido da imaginação". De facto, o olfacto é um sentido fundamental. Os estímulos aromáticos despertam emoções ou recordações. Um determinado cheiro pode evocar memórias passadas e conduzir-nos numa viagem de sensações
Os perfumes e os odores têm uma grande influência no psiquismo, eles propiciam a aparição de imagens e de cenas significativas. Imagens que suscitam e orientam emoções e desejos, elas podem evocar um passado muito distante. A baunilha por exemplo recorda as imagens alimentares e as emoções da fase oral.
E não vou falar aqui das ligações perigosas entre olfacto e sexualidade. Mas, propósito, Baudelaire
escreveu:

PARFUM EXOTIQUE

Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d'au
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux, [tomne,
Je vais se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l'oeil par sa franchise étonne.


Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encore tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air 'et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.

Baudelaire, Les Fleures du Mal et autres Poèmes, (Paris, Garnier-Flammarion, 1964), pp.52-53


2. Álbum de cheiros

a) Essências

Melancólico o perfume de Cedro dos Natais da minha infância
Subtil o olor das flores de laranjeira

Puro deleite odorífero da eterna Rosa

Como nos dois tercetos de um soneto de Rilke:

De há séculos teu perfume nos proclama
Os seus nomes de maior doçura;
De súbito paira no ar como uma glória.

No entanto, não o sabemos nomear, adivinhamos…
E para ele passa a lembrança
que pedimos às horas invocáveis.

O jacinto e o Lilás aliam a beleza das formas e das cores à volúpia do perfume
Aprazíveis as essências do jasmim, das Gardénias e das magnólias

b) Aromas e sabores

Refrescantes os aromas da Lima e do limão
Intensos estimulantes os hálitos da Canela e do cravinho,

Inebriante o odor do Gengibre a flutuar pela casa quando preparei comida chinesa pela primeira vez
Experiência sublime inalar o perfume das especiarias ao serem moídas para confeccionar o garam masala
Doce o delicado aroma de Baunilha no creme inglês sobre um oloroso bolo de café e rum

Estimulante o cheiro do chá verde
Balsâmico o perfume do chá com essência de bergamota
Deliciosos aromas de tangerina e cardamomo da calda dos fritos de Natal

c) Terras e cheiros

Sinto nostalgia da maresia na Avenida marginal de Ponta Delgada
Repousante o cheiro a eucalipto na serra da Lousã
Revigorante o cheiro da terra húmida quando regressava a Ponta Delgada — nas férias depois das aulas em Lisboa — Vivi uma experiência idêntica, mas ainda mais forte quando aterrei no Rio.
Estranho o cheiro a gelo ao chegar a Estocolmo no Natal

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