2.3.8. Da Cor e da Luz na Pintura

Breve nota sobre Paul Gauguin

Gaugin definiu de uma forma directa, o estatuto ambíguo e simbólico da cor: "A cor sendo em si mesma, enigmática nas sensações que provoca em nós, apenas a podemos, logicamente, empregar enigmaticamente.”[ Gauguin, in Herbert Read, A Filosofia da Arte Moderna, (Lisboa, Ulisseia, s/d), pp.170-171].
A cor em Gaugin tem ressonância, possui um significado no inconsciente, mas um controlo muito técnico, retirou-lhe parte da sua força.
Na tela o Cristo Amarelo, que se terá transformado num arquétipo das escolas expressionistas alemãs posteriores, é evidente, a intenção simbólica do artista, quanto à aplicação da cor: “As zonas abertas da paisagem, na parte inferior, levam-nos para uma superfície ondulada, com manchas de árvores vermelhas, ou a uma povoação levemente esboçada, e, a um prado no primeiro plano em que aparecem três mulheres bretãs em ordenada atitude meditativa. Tomando como modelo um crucifixo de madeira, românico, o autor utilizou um amarelo vibrante, quase ácido, para procurar dentro da morte, «uma simplicidade grande, rústica e supersticiosa.»” [in Rui Mário Gonçalves, et al., A Grande Arte na Pintura, Lisboa, Publicações Alfa, 1986), vol.V, p.1060]. Gauguin pintou também um auto-retrato com o Cristo Amarelo.
As intuições de Gaugin, embora tenham grande valor, não foram suficientemente teorizadas e sistematizadas, por isso, nos serviremos como ponto de apoio, dos escritos de um outro pintor: será Kandinsky, a base, o ponto de partida de toda a reflexão seguinte acerca das conotações simbólicas da cor na pintura. O seu livro mais importante relativamente a este tema "Do Espiritual na Arte", é um verdadeiro tratado de harmonia onde o autor aprofundou sobretudo um dos dois meios privilegiados da pintura, a cor, para ele, de primordial importância. O efeito sensorial da cor é de curta duração e tem pouco relevo. O que conta é a ressonância espiritual, a acção directa sobre a alma. "A cor é a tecla, o olho, o martelo. A alma, o instrumento das mil cordas." [Kandinsky, Do Espiritual na Arte, (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1987), p.60].
Esta ressonância espiritual, esta necessidade interior são o princípio base de todo o trabalho criador. As reflexões de Kandinsky, constituem uma verdadeira teoria simbólica das cores com claro parentesco com as dos grandes percursores Turner, Delacroix.

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