F?RIAS
Ontem começaram as minhas férias.
...No dia anterior entreguei, com o agradável sentimento do dever cumprido e da concomitante libertação, o produto do meu último trabalho deste ano lectivo, as provas corrigidas, de exame da segunda chamada da primeira fase, no agrupamento de Évora...
É delicioso fruir o tempo sem tarefas compulsivas a cumprir. Poder seguir os ritmos do corpo, tomar um duche matinal demorado sem preocupações com horários, estrear um perfume, tomar pausadamente as refeições, conversar, repousar, esvaziar a mente, dar ligeiros passeios sob o calor alentejano só para ter o pretexto de regressar e gozar a frescura das paredes antigas da casa.
Embora, num contexto muito diferente, sinto-me um pouco como Hans Castorp nos primeiros dias da sua estadia no Sanatório: “E o contentamento reinava no coração de Hans Castorp, ao pensar nas duas horas vazias, cheias de assegurada paz, que tinha à sua frente, essas horas do repouso principal (…) Porque Hans Castorp era paciente por natureza, e era capaz de passar muito tempo sem ocupação, e gostava, conforme nos recordamos do ócio que nenhuma actividade atordoadora consegue obliterar, consumir, afugentar. Às quatro horas iria tomar o chá com bolo e compota; depois haveria um novo descanso na cadeira de repouso; às sete, vinha o jantar que como todas as refeições, comportava as suas tensões e as suas curiosidades, que se aguardava com uma impaciência alegre…” Thomas Mann, A Montanha Mágica, (Lisboa, Livros do Brasil, s/d), pp.109-110.
Ontem, precisamente, saí pela manhã com a minha filha mais nova fomos ao Multibanco e à pastelaria, cumprir o nosso rito matinal. No regresso encontrei duas amigas na esplanada do largo onde vivo à minha espera, já não estava com elas há muito tempo. Convidei-as para ir a minha casa, aí procedemos aos diferentes relatórios das novidades. Entretanto, decidimos almoçar num restaurante próximo e acolhedor onde servem boa comida regional. Durante a lauta refeição rimo-nos e recordámos momentos e pessoas, que com a passagem do tempo ganharam outra coloração, enquanto nos deliciávamos com as entradas ricas de gordura, paio e queijo de ovelha amanteigado, seguidas de uns mais saudáveis pratos de cherne e dourada grelhados, para finalizarmos com um inspirador leite creme, tudo regado com vinho Loios. Retornámos a casa, mais pesadas, ensonadas, mas satisfeitas debaixo de um calor abrasador, por isso respiramos com prazer a atmosfera refrescante do hall. Enquanto a minha filha exibia, vestia e despia as bonecas, seguiu-se mais conversa, esparramadas nos sofás da sala, uma falou do seu grande amor do momento, das suas últimas viagens, a outra dos filhos, da escola, das férias… enfim discorreu-se sobre as experiências e os episódios que fazem correr o tempo. A propósito na Montanha Mágica Hans Castorp faz várias e interessantes reflexões sobre a essência e as vivências do tempo.
...No dia anterior entreguei, com o agradável sentimento do dever cumprido e da concomitante libertação, o produto do meu último trabalho deste ano lectivo, as provas corrigidas, de exame da segunda chamada da primeira fase, no agrupamento de Évora...
É delicioso fruir o tempo sem tarefas compulsivas a cumprir. Poder seguir os ritmos do corpo, tomar um duche matinal demorado sem preocupações com horários, estrear um perfume, tomar pausadamente as refeições, conversar, repousar, esvaziar a mente, dar ligeiros passeios sob o calor alentejano só para ter o pretexto de regressar e gozar a frescura das paredes antigas da casa.
Embora, num contexto muito diferente, sinto-me um pouco como Hans Castorp nos primeiros dias da sua estadia no Sanatório: “E o contentamento reinava no coração de Hans Castorp, ao pensar nas duas horas vazias, cheias de assegurada paz, que tinha à sua frente, essas horas do repouso principal (…) Porque Hans Castorp era paciente por natureza, e era capaz de passar muito tempo sem ocupação, e gostava, conforme nos recordamos do ócio que nenhuma actividade atordoadora consegue obliterar, consumir, afugentar. Às quatro horas iria tomar o chá com bolo e compota; depois haveria um novo descanso na cadeira de repouso; às sete, vinha o jantar que como todas as refeições, comportava as suas tensões e as suas curiosidades, que se aguardava com uma impaciência alegre…” Thomas Mann, A Montanha Mágica, (Lisboa, Livros do Brasil, s/d), pp.109-110.
Ontem, precisamente, saí pela manhã com a minha filha mais nova fomos ao Multibanco e à pastelaria, cumprir o nosso rito matinal. No regresso encontrei duas amigas na esplanada do largo onde vivo à minha espera, já não estava com elas há muito tempo. Convidei-as para ir a minha casa, aí procedemos aos diferentes relatórios das novidades. Entretanto, decidimos almoçar num restaurante próximo e acolhedor onde servem boa comida regional. Durante a lauta refeição rimo-nos e recordámos momentos e pessoas, que com a passagem do tempo ganharam outra coloração, enquanto nos deliciávamos com as entradas ricas de gordura, paio e queijo de ovelha amanteigado, seguidas de uns mais saudáveis pratos de cherne e dourada grelhados, para finalizarmos com um inspirador leite creme, tudo regado com vinho Loios. Retornámos a casa, mais pesadas, ensonadas, mas satisfeitas debaixo de um calor abrasador, por isso respiramos com prazer a atmosfera refrescante do hall. Enquanto a minha filha exibia, vestia e despia as bonecas, seguiu-se mais conversa, esparramadas nos sofás da sala, uma falou do seu grande amor do momento, das suas últimas viagens, a outra dos filhos, da escola, das férias… enfim discorreu-se sobre as experiências e os episódios que fazem correr o tempo. A propósito na Montanha Mágica Hans Castorp faz várias e interessantes reflexões sobre a essência e as vivências do tempo.
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