Confidências e Desabafos de Savarin (116)
Surpresa


Sábado, aqui o Savarin ofereceu um almoço a um grupo de amigos noruegueses cuja missão do dia era surpreendê-lo desprevenido.
Todavia, por acaso, tinha saltado cedo do leito, e rumado à praça onde encontrei 1 só molho de beldroegas mui viçosas, à minha espera. Capitosos ramalhetes de oregãos e segurelha a pedir para ser transportados para a cozinha; pequenos figos, em frenesim, ansiavam ser deglutidos. Queijinhos de cabra curados exibiam, sem pudor, os colos ebúrneos.
O certo é que embora assaltado pelo inesperado, tinha a cozinha recheda de dos mais frescos víveres para alimentar muitas valquírias e guerreiros de Odin.
Assim munido, com as beldroegas e os queijos preparei a sopa das ditas. Enquanto a saboreavam os nórdicos subiram até Valhalla (1) e o azul dos seus olhos faíscava de gula. Ficaram abismados com a sabedoria demonstrada pelos cozinheiros alentejanos na criação de tão simples, mas feliz harmonia de sabores.
Seguiu-se uma salada de tomate e oregãos, um peixe no forno temperado com a segurelha e os figos com gelado de natas e iogurte para sobremesa.

Nota: Um deles obsecado, em extremo, pela culinária trouxe fotografias da sua própria cozinha, em todos os ângulos, para eu dizer de minha justiça. Nas próximas férias irei à Noruega para verificar se as imagens correspondem à realidade.


(1)Valacha ou Valhala, salão dos mortos escolhidos, o paraíso dos homens escolhidos entre os caídos em combate heróico. Era um palácio magnífico que continha quinhentas e quarenta portas as quais poderia passar uma formação de oitocentos homens, que davam para uma grande sala coberta de espadas
tão brilhantes que iluminavam a estância refletindo a sua luz no artesanato feito de escudos de ouro e nos peitilhos e malhas que decoravam os bancos, a sala de jantar e o lugar de reunião para os Einherjars (mortos gloriosos ou chamuscado com fogo) trazidos entre os mortos pelas Valquírias. É servido
a carne de javali Schrinnir (empretecido), que chega fartamente para todos, pois embora o javali seja cozido todas as manhãs, fica inteiro novamente todas as noites. Para bebida, os heróis dispunham de abundante hidromel, fornecido pela cabra Heidrun (sobre a origem do hidromel, ele também vem do sangue de Kvasir e pela chuva das Nornes. O sangue
de Kvasir deu origem ao Odhroerir “hidromel da inspiração”de Odin, enquanto que o hidromel das Nornes é outra ainda).

Comentários

Mensagens populares