Leituras - Deslumbramento e Revelação
Le Buveur de Temps de Philippe Delerm (1), é um livro que me encanta, ainda, passado tempo após a conclusão da sua leitura, pela musicalidade da linguagem, pelo inusitado das imagens. O início da obra é pautado por uma originalidade, perdoem o pleonasmo, fora do comum, não nos prepara para as surpresas oferecidas pelo brilhante desenvolvimento da narrativa, embora nos introduza no universo flutuante da escrita e da história, mundo imbuído de uma melancolia sublime.
A caracterização das cores da atmosfera, dos ambientes, das personagens leva-nos a reler uma e outra vez passagens já lidas, apetece beber as palavras, permanecer nas frases, tal como as personagens procuram beber e aprisionar o tempo. A descrição de acções aparentemente tão prosaicas como ir a um café ou a um restaurante ganham uma dimensão poética e metafísica. Plagiando uma expressão do próprio autor, há que ser um "goûteur d'images", trata-se de um texto feito para saborear imagens e sons. Numa negação da advertência platónica que condena os simulacros, os reflexos e as sombras do mundo das aparências, as personagens lêem os reflexos, degustam as imagens, recolhem com obstinação os dados das sensações, para neles, na sua multiplicidade, no seu devir, na sua imanência, descobrir a perenidade. Para dizer a verdade, as palavras escorregam quando tento expressar o quanto gostei de ler este livro. O espírito desta obra está próximo do de Rilke: tornar visível o invisível, eterno o transitório.
É para mim, uma tarefa impossível, seleccionar, de modo voluntário, um trecho para transcrever, por isso, deixo aqui uma passagem, oferecida pelo acaso, ao autor de Legendas que hoje festeja o primeiro aniversário do referido blogue:
Ce qu'il nous apportait s'écrivait dans le temps: l'écoulement de son spectacle et la magie de ses préparatifs, l'idée que quelque chose devait se passer, se passait, puis se dissipait dans le soir, nous laissant la fumée d'une malaise, une onde de mélancolie. (2)
Nota: O bilhete de acesso a este paraíso literário é de apenas 4,65 euros.
(1) Philippe Delerm, Le Buveur de Temps, (Paris,Gallimard, 2002).
(2)op.cit.,p.62.
A caracterização das cores da atmosfera, dos ambientes, das personagens leva-nos a reler uma e outra vez passagens já lidas, apetece beber as palavras, permanecer nas frases, tal como as personagens procuram beber e aprisionar o tempo. A descrição de acções aparentemente tão prosaicas como ir a um café ou a um restaurante ganham uma dimensão poética e metafísica. Plagiando uma expressão do próprio autor, há que ser um "goûteur d'images", trata-se de um texto feito para saborear imagens e sons. Numa negação da advertência platónica que condena os simulacros, os reflexos e as sombras do mundo das aparências, as personagens lêem os reflexos, degustam as imagens, recolhem com obstinação os dados das sensações, para neles, na sua multiplicidade, no seu devir, na sua imanência, descobrir a perenidade. Para dizer a verdade, as palavras escorregam quando tento expressar o quanto gostei de ler este livro. O espírito desta obra está próximo do de Rilke: tornar visível o invisível, eterno o transitório.
É para mim, uma tarefa impossível, seleccionar, de modo voluntário, um trecho para transcrever, por isso, deixo aqui uma passagem, oferecida pelo acaso, ao autor de Legendas que hoje festeja o primeiro aniversário do referido blogue:
Ce qu'il nous apportait s'écrivait dans le temps: l'écoulement de son spectacle et la magie de ses préparatifs, l'idée que quelque chose devait se passer, se passait, puis se dissipait dans le soir, nous laissant la fumée d'une malaise, une onde de mélancolie. (2)
Nota: O bilhete de acesso a este paraíso literário é de apenas 4,65 euros.
(1) Philippe Delerm, Le Buveur de Temps, (Paris,Gallimard, 2002).
(2)op.cit.,p.62.
Comentários