Da Pintura

1.

"Na pintura há duas coisas: os
olhos e o cérebro. Os dois devem
ajudar-se mutuamente."

Cézanne


«À força de transformações acompanho - dizia Monet - a natureza, sem a poder captar... o Sol anda tão depressa que não o posso acompanhar...a Natureza modifica-se tão depressa neste momento, é aflitivo...».
Guy de Maupassant descreve-o nesta procura agitada:
«Na verdade, já não era um pintor mas um caçador. Andava seguido por crianças que lhe transportavam as telas. Cinco ou seis telas representando o mesmo assunto em diversas horas e com efeitos diferentes. Retomava-as e abandonava-as sucessivamente, de acordo com as alterações do céu. E o pintor, à frente do assunto, esperava, espiava o sol e as sombras, apanhava com algumas pinceladas o raio que brilha ou a nuvem que passa e, desdenhoso do falso e do convencional, pousava-o sobre a tela com rapidez.» «Vi-o captar assim uma queda brilhante de luz sobre a falésia branca, e fixá-la num movimento cursivo de tons amarelos que reproduziam estranhamente o surpreendente e fugidio efeito desse incaptável e ofuscante deslumbramento.»
Os olhos de Monet, de uma extraordinária acuidade - que já Duret em 1873 qualificava de «fantásticos» e que Cézanne definirá como «os mais prodigiosos desde que existem pintores» -, esses olhos capazes de trespassar as aparências, de surpreender as mais ínfimas- modificações, vão a partir de então rivalizar com a câmara apta a registar a sucessão dos movimentos. E não há dúvida de que é em filmes que nos fazem pensar as famosas séries que se sucedem: Mós (1891), Choupos (1892), Catedrais (1893), Falésias (1896)
Vistas de Londres (1905), sem contar com Nenúfares.

Jean-Dominique Rey, O Impressionismo, (Lisboa, Livros do Brasil, s/d), pp. 65-66

Eis extensões marinhas, eis velas, eis nuvens que flutuam entre o céu e o mar. Eis a morna profundidade e espuma iluminada, eis fantasmas de flores sob a superfície dos charcos... Eis a sombra das folhas misturada com os ribeiros vivos pela ondulação das algas... Eis os nevoeiros, eis a geada que cobre o chão e o gelo e que se prende às árvores, eis os fumos vagarosos dos comboios e dos barcos. Eis o aroma das ervas queimadas, das ervas floridas... Os jogos do sol e da sombra e da bruma e das estações... É o pintor das águas, o pintor do ar livre.
Aqui é Veneza, aqui Londres, aqui um rio francês, um canal holandês.


(De uma apreciação de Monet por Elie Faure - Citado por Jean Bersier in O Impressionismo - Livros do Brasil- pág. 15)

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