Varandas para a Serra


ao longo do tempo as encostas à volta da casa ora se velam sob o perfil de muitas árvores no horizonte
ora evidenciam o seu relevo nos anos de fogo

trepar, subir e descer as encostas escarpadas, espreitar as minas de volfrâmio, quase cair por ali abaixo até ao ribeiro

andar pelos caminhos e muros feitos de quadros da escola
a ver os açudes e os canais de rega, cabras, ovelhas e gaios verdes
até ao Poço da Moura escondido entre os milheirais
mergulhar no verde gelo de uma água transparente
nadar até à cascata emoldurada pelas silvas e bagas vermelhas, vistosas de venenos
apanhar as pedras modeladas pela corrente

regressar com braçadas de urze de cores várias e pequenas flores amarelas, para gáudio das mulheres da terra, que logo oferecem espécies de jardim, atónitas com o acto de levar mato para florir a casa

há muito tempo havia carvalhos, castanheiros, cerejeiras, também os resistentes pinheiros, macieiras, abrunheiros, vinha americana
agora fazem-se piqueniques sob a frescura e os aromas do eucaliptal - eu gosto do cheiro dos eucaliptos e de beber água-chalada (vulgo ice tea de limão), refresco de café e mandrana feitos com a água do ribeiro

uma caminhada até à Portela do Vento na fria madrugada, ainda lusco-fusco, paragem das camionetas com destino a Góis, à Lousã ou Coimbra
na viagem, penedos, cheiros de mato e figueiras, perspectivas do Ceira, uma fábrica de fiacção abandonada outrora do meu bisavó materno
que segundo a filha-minha-avó morrera demasiado cedo

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