Da Voluptuosidade (18)

Baudelaire: voluptuosas sinestesias

O texto abaixo transcrito, "Parfum Exotique" foi o primeiro poema - da parte dedicada à sua amante Jeanne Duval - da secção "Spleen et Idéal," da obra Les Fleurs du Mal.

No referido poema a figura da mulher desvanece-se, gradualmente, em função do poder do seu perfume. O odor engendra uma visão imaginária e idealizada. É evident,e o movimento em crescendo da imagem da mulher para as representações da ilha e do porto. Bem assim, como o jogo de correspondências entre as sensações, sinestesias, característico do simbolismo.

O poeta estabelece uma relação entre o sentido do olfacto e o da visão versos 2-3 . Daí o posicionamento simétrico dos verbos no início dos versos. Esta simetria evoca o poder do perfume que gera uma visão de luminosidade: passa-se do perfume à vista (versos 3-4)
De realçar a pluralidade de sensações : verso 10 : sensação visual; verso 12 : sensação olfactiva (" parfum ") e o verso 14 : auditiva (" chant ")
As sensações são realçadas por um jogo de ecos e pelo recurso a aliterações.

Como diria Baudelaire neste poema: " les parfums, les couleurs et les sons se répondent ".


Parfum exotique


Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d'automne,
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l'oeil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.



Charles Baudelaire, Les Fleurs du Mal et Autres Poèmes, (Paris, Garnier-Flammarion, 1964), pp. 52-53.



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