Um jardim de cheiros

Era um jardim para cegos. A vista constantemente se ofendia, mas o olfacto, esse podia extrair dele um prazer violento, embora grosseiro. As rosas Paul Neyron, cujas estacas ele próprio aquirira em Paris, haviam degenerado. Primeiro estimuladas, depois extenuadas pelos sucos vigorosos e indolentes das terras sicilianas, queimadas pelos Julhos apocalípticos, haviam-se transformado numa espécie de couves cor de carne, obscenas, que destilavam, porém, um aroma denso, quase desonesto, que nenhum criador francês teria ousado esperar.

Tomasi di Lampedusa, O Leopardo, (Livros Unibolso, s/d), p.12

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