O Palácio Encantado da Memória (3)

Parece-me, e só ela o saberá, que a Madalena passa grande parte do tempo a retomar e a tentar resolver os casos do passado que não deu por encerrados. Arrisca-se a não viver nem o presente nem o passado, pois se por um lado, nunca está inteira no momento, por outro, as personagens e os acontecimentos do passado já não são os mesmos, mudaram ao sabor das vicissitudes da memória, do tempo e das circunstâncias. Entretanto, os actores, os cenários, o enredo e a acção do presente tornam-se elementos do passado.

O estado de perpétua evocação do passado - podemos dizer de saudade - é um sentimento feito de lembrança e desejo, resulta da consciência de um passado mais rico do que o presente e do desejo de um futuro idealizado.

Na generalidade, considero que bom ou mau, o que passou passou, e armazeno as lembranças nas respectivas secções, mesmo no caso das sinfonias incompletas ou das capelas imperfeitas... No entanto, por vezes, e agora, talvez fascinada pela atitude da minha amiga, sinto uma certa tentação de dar uma segunda oportunidade ao passado, de completar obras inacabadas, terminar histórias incompletas. Nos tempos que correm, o nouveau roman já não convence ninguém...

Pode acontecer, também, que por várias razões, uma figura ou acontecimentos do passado ganhem no presente, uma dimensão ainda maior e mais importante do que aquela que tiveram anteriormente.

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