Do conceito de mimesis(1)

Para dizer a verdade, já não me lembro se foi numa entrevista ao Expresso ou ao Público, que a Paula Rego fez a citada afirmação. Guardei o artigo, mas agora não o encontro.

Do conceito de mimesis

Definir a categoria de mimesis como sendo a estricta constatação sensível da natureza exterior e a sua representação dentro de uma concepção alegadamente clássica, será limitá-la referindo uma das suas múltiplas dimensões. A concepção habitual de mimesis, como a imitação da natureza e a realidade copiada, é uma perspectiva errónea, que a rigor não corresponde a nenhuma corrente estética da arte ocidental.
O conceito de mimesis não é confinável ao âmbito restricto do realismo vulgar, pois abrange toda uma rede de manifestações artísticas muito mais vasta e portadoras de motivações mais profundas.
Um estudo mais atento revela que mesmo na Grécia clássica não se preconizava nem tão pouco se praticava uma imitação da natureza ou uma cópia servil do objecto a ser representado. O acto de figuração constituiria uma autêntica transfiguração do real. O que se encontra quer em Platão, quer em Aristóteles é a defesa de uma transfiguração da realidade, da criação de universos simbólicos que embora suscitados pelo real, instauram modelos novos e independentes, uma vez que o paradigma deve ser de valor superior ao que existe. Para Aristóteles a arte deve engrandecer os homens - mimesis correctora - deve pintá-los melhores do que são na realidade. A mimesis contém uma hermenêutica de captação do essencial. Assim a procura do cânone dentro da arte clássica representaria a tentiva de descoberta de uma harmonia cósmica profunda. A função mimética não se reduziria à representação de objectos exteriores, a beleza seria a concretização de uma alma.
PS. Platão e Aristóteles também reconheciam a participação do artista na sua obra, nomeadamente, do seu lado nocturno

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