Do conceito de mimesis (2)

Embora a categoria de mimesis se encontre mais directamente ligada à função representativa da arte, ultrapassa a figuração, até porque as artes ditas de representação podem, em relação aos objectos representar o seu aspecto ou a sua essência, a beleza da sua forma ou ainda as conotações intelectivas, imagéticas, oníricas e enfim psicológicas. Significando isto que uma dada obra de arte será mimética de acordo com uma ou outra destas definições.
Mondrian no seu ensaio "New Art-New Life", de 1931, afirmou que a arte não figurativa seria a mais apta para representar o absoluto e por conseguinte seria a mais real o mesmo é dizer a mais mimética.
As diferentes interpretações e em concomitância as diversas objectivações da categoria de mimesis corresponderiam ao nível de consciência artística alcançada num dado momento da história dos movimentos artísticos em geral ou da própria história individual de cada artista em particular.
O processo mimético foi entendido e plasmado sob as mais variadas formas.Certos métodos de criação artística desenvolvidos, por exemplo, no expressionismo,futurismo, no cubismo ou no surrealismo, realizaram diferentes graus de mimesis relativos a determinados níveis de realidade, apreendendo-a, assim, na sua totalidade, e, não apenas algumas das suas articulações.
Atente-se na Guernica de Picasso,desesperada mimesis da dor e da raiva.
Os diferentes modos de operacionalizar a mimesis dependem também do contexto histórico e das vivências do artista,experiência que poderá ser relativizada,mas nunca negada. É sempre alguém que realiza a obra transmitindo-lhe toda a carga emocional,afectiva e intelectiva pessoal,resutando a obra de uma interpretação sui generis a todos os níveis.
O uso diversificado da mimesis gera-se a partir da interpretação da realidade e da interpretação da função e origem da obra de arte. Tal interpretação poderá ser de cariz acentuadamente intelectivo ou emocional ou ainda uma relação entre ambos.
O neoplaticismo de Mondrian constituiu uma procura do que designava "visão clara" da "verdadeira realidade".Uma arte impessoal não condicionada pelo sentimento e concepções subjectivas,por conseguinte uma arte intelectiva, diria mesmo noética.Uma arte de apreensão _mimesis_ da vida própria das formas dentro da concepção impessoal e não figurativa.
Por outro lado, Ben Nicholson não aceitou esta posição extrema,exprimindo antes todo o diapasão de vibrações estéticas, revelador de uma sensibilidade aberta e globalizante na sua visão da realidade.

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