Duas vias para a compreensão do pensamento hermenêutico: Heidegger e Paul Ricoeur


III - A Destruição da Metafísica

A tarefa preliminar do pensamento, no entender de Heidegger, seria a "destruição" da Metafísica. Esta "destruição" constituiria um momento interior, por outro lado não comportaria uma intenção negativa: "destruir e superar a Metafísica não quer dizer suprimi-la mas antes realizá-la.
Heidegger, procurou levar até ao fim a interrogação da Filosofia não se apressando a fabricar respostas precipitadas (valorizando a pergunta, afirma como Gadamer o primado ontológico da pergunta).
Seria partindo da própria Metafísica, que se iria criticar os seus pressupostos. O pensamento deveria interrogar a partir da Linguagem constituída da Filosofia. Seria "destruíndo", que se tentaria edificar, foi retomando os caminhos percorridos pela Filosofia Ocidental, que este pensador, tentou reencontrar as vias perdidas do pensamento.
Seria questionando a Metafísica, aceitando a precaridade dos seus modelos, que se poderia prolongar e superar os problemas por ela enunciados.
A "destruição" e o recuar em vista da construção, inversamente o horizonte- desta "superação", permitiria a assimilação das perspectivas precedentes. Este "destruir" a Metafísica, implicaria a descoberta das possibilidades ocultas, da própria Metafísica e a sua consequente revelação. Ao demarcar-se os limites que a formulação de uma questão posta fixaria ao pensamento e libertar-se-ia o âmbito da interrogação, paralizada pela representação. A perspectiva de Ricoeur acerca da interpretação dos textos filosóficos, aproximou-se desta posição heideggariana. (Todavia, enquanto que Paul Ricoeur, elaborou previamente o levantamento das estruturas subreptícias do texto, servindo-se da fenomenologia, da psicanálise e do estruturalismo e só depois realizou a sua hermenêutica do texto analisado, procurando captar o sentido "último" do texto, reconstruindo-o, incidindo sobre ele uma nova luz que possibilitaria a sua compreensão global. O discurso do pensador seria reenviado, restituído ao mundo. Ricoeur não se furtou à análise detalhada de questões particulares, específicas. Por seu turno, Heidegger encaminhou toda a problemática para uma antologia "Geral").
Retomando a perspectiva heideggariana, acerca da Metafísica, da sua "destruição", e da restituição do sentido profundo das questões. Heidegger interrogou os filósofos partindo do interior dos próprios sistemas, relevando a insuficiência da sua sistematização, das suas respostas, explicitando, todavia, a intenção positiva desses mesmos filósofos. "Destruir", na acepção heideggariana, seria descobrir sob as estratificações do pensamento, o espírito que estria na origem da sua Tradição e que as múltiplas tradições recobririam ao desenvolverem-se. Criticar significaria mostrar a distância que separaria o projecto consciente de uma Filosofia, do horizonte mais vasto que ela não teria conseguido abarcar. O Filósofo para além de mostrar o fracasso do pensamento representaria aquele que revelaria o carácter salutar do Fracasso.

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