História da Filosofia Moderna
As objecções de Hobbes a Descartes (6)


Hobbes refutou a resposta de Descartes de que o pensamento não precisaria de corpo contrapondo que a razão apenas articularia signos convencionais . Os nomes provenientes da imaginação resultariam do movimento dos orgãos corporais. A imagem reduzir-se-ia à aparência do movimento que o objecto produz no cérebro, sendo assim, o espírito não seria mais do que um movimento em certas partes do corpo.
Por seu turno Descartes acusou Hobbes de convencionalismo oco, de verborreia estéril. No entanto, este aparente convencionalismo foi superado por Hobbes ao afirmar que o mistério do conhecimento residiria na secreta linguagem natural das coisas, anterior à pluralidade das línguas e mediante a qual as coisas nos interpelariam directamente. Embora, segundo o empirista inglês essa linguagem deva ser depurada e elaborada através do raciocínio lógico. Os movimentos fundariam o fenómeno, manifestar-se-iam nele, constituiriam o fenómeno. O próprio conhecimento seria o movimento do objecto para o sujeito e do sujeito para o objecto. O determinismo biológico do homem determinaria a sua participação no devir propriamente físico da natureza.
Descartes, pelo contrário, estabeleceu uma dicotomia entre o cogito, a coisa pensante, e o corpo ou res extensa. Por isso, na resposta à objecção, mostrou o seu espanto e interrogou-se como era possível alguém relacionar espírito e movimento, dois géneros de natureza completamente diversa.
davia, a noção de movimento de onde derivamos o real pode traduzir um ideal de conhecimento na constituição metódica da análise e no desenvolvimento de princípios a culminar numa construção intelectual.
Em relação à terceira meditação, "Acerca de Deus, que Ele existe" Hobbes apresentou sete objecções, a saber, da 5ª à 11ª. A análise de todas estas objecções e respectivas respostas de Descartes, mostrou-nos que todas as divergências quanto ao meio de decifrar o real, entre os dois filósofos se encontram aqui bem explícitas. Verificamosa um distanciamento, sobretudo no que concerne à fundamentação do mundo e da existência de Deus. As provas comprovativas da existência de Deus foram enunciadas e processaram-se de modo diverso nos dois autores. A concepção do Criador e os caminhos percorridos até o atingir foram contrastantes, derivando, aliás, da posição epistemológica e da vivência filosófica de cada um dos autores.
a polémica instalou-se logo na 5ª objecção e prosseguiu na 11ª. Hobbes identificou ideia e imagem proveniente da representação sensível, a ideia é o reflexo da realidade sensível, do objecto em nós. Logo, de acordo co Hobbes, Deus é inconcebível racionalmente, não podemos ter em nós a ideia de Deus, a Sua existência não poderá ser validamente demonstrada deste modo, e ainda menos a criação do mundo. Será, apenas, recorrendo à existência das coisas exteriores a mim, do mundo, que poderei verificar que há uma ordem, um encadeamento coerente de causas e terei a necessidade de afirmar a existência de uma causa eterna, um primeiro princípio, um Deus providencialista, génese do mundo, gerador das estruturas.
Em contrapartida, Descartes definiu ideia como aquilo que é concebido imediatamente pelo espírito, ideias seriam as formas das concepções do entendimento divino. Descartes, pretendeu provar que DEus existe, mesmo antes, de examinar que existe um mundo criado por Ele. A existência de Deus foi demonstrada em termos de pura abstracção. Duvido, penso, logo existo; eu criatura finita, anseio a perfeição; esta ideia de infinito em mim infusa, foi, está sendo, vinculada no meu ser finito e imperfeito, por um ser infinito e perfeito que é Deus. Ele existe e cria continuamente o mundo sustentando-o a cada momento, mais Ele é a garantia de verdade. Foi este o percurso e as conclusões de Descartes.
No entender de Hobbes, a existência de Deus afirma-se relativamente ao mundo. Digo que Deus existe, mas nada poderei afirmar quanto à Sua origem, ou quanto às suas qualidades. Nada poderei imaginar acerca Dele. O ser humano não possui a ideia de Deus impressa na sua mente.
Na resposta à 10ª objecção, ripostou Descartes, não temos a ideia de Deus sempre presente, contudo teriamos em nós a capacidade de a produzir.

Continua...

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