Pierrot (10)

Representações de Pierrot na Arte do fim do século XIX e primeiras décadas do século XX, a propósito dos poemas de Jules Laforgue transcritos no post anterior.

O Pierrot do final do século XIX deve a sua origem a uma personagem italiana. Todavia, o seu perfil foi completamente modificado pela cultura francesa . Entre 1890 e 1930, tornou-se uma figura muito trabalhada por diversos artistas europeus e latino-americanos; compositores, pintores, novelistas, poetas procuraram criar as suas interpretações originais de Pierrot.

Esta personagem da Comedia dell' Arte, nem sempre, teve uma personalidade ou caracterização definidas, pois as características de Pierrot e Arlequim modificaram-se ao longo do tempo, podendo, mesmo, encontrar-se a figura de cada um representando-se a si mesmo, ou à personalidade (oposta) do outro. Sem mencionar as mudanças de nome, o que significa que aquele a quem chamamos Pierrot é por vezes referido por Pedrolino, outras por Gilles, ou Pagliacci, ou Petruska, entre outras designações. (1)

Na Comedia dell' Arte já figuravam Pierrot, Arlequim e Colombina, porém o desenvolvimento e fixação da suas características foram traçadas pelos artistas franceses. Nesse sentido, Pierrot é uma personagem francesa, as suas características e as de Colombina e Arlequim reflectem as preocupações temáticas da literatura decadentista, evidenciam o desprezo do artista pelo burguês e domina-as o spleen. Colombina apresenta alguns atributos da femme fatale, e o conjunto representa um triângulo mais ou menos estereotipado, facto que permitiria projectar neles a neurose que cada artista pretendesse expressar.

Devemos referir, ainda, as diferentes figuras de Pierrot , o simplório desafortunado no amor, vítima da vida. Colombina, o objeto sexual de poucas luzes, e Arlequim, o mentiroso, brutal e cínico. Aspectos que se desenvolveram, posteriormente, bem assim como a dependência mútua revelada pelos conflitos entre os três. (2)

Pierrot também encarnou os valores do herói decadente e do artista. Segundo Martin Green e John Swan, Pierrot teria simbolizado, o artista, todos os artistas, de toda a humanidade; converter-se-ia no herói emblemático da sensibilidade. Teria uma dimensão altamente estética, nostálgica, elegante e graciosa. (3)

Até ao final do século XIX, Jules Laforgue era o principal escritor francês a escrever acerca de Pierrot. A personalidade de Laforgue seria evasiva e identificar-se-ia com personagens literárias como Hamlet, mas sobretudo com Pierrot como um alter ego. (4)

Entre as inovações literárias de Laforgue, contam-se o verso livre, que se associa à sensibilidade pierrotiana. Em 1885, durante seis semanas, escreveu a obra L’imitation de Nôtre-Dame la Lune, onde múltiplos Pierrots aparecem, descritos com o seu modo de agir característico, e evidenciam uma sensibilidade genuinamente lunar/lunática. Muitos dos seus poemas estão escritos na voz e sob a perspectiva de Pierrot.

(1) Martin Green; John Swan, “Pierrot and Arlequín, Picasso and Stravinsky” in The triumph of Pierrot, The Commedia dell’arte and the modern imagination, (University Park, Pennsylvania State University, 1993), p.1.
(2) op.cit., p. 3.
(3) op.cit., p. 18.
(4) op.cit. , p. 27.

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