Breves apontamentos sobre grandes questões das neurociências (3)
Ce qui nous fait penser. La nature de la règle


Escrevo este texto em homenagem à minha amiga Madalena que me ofereceu o livro de Jean-Pierre Changeaux e Paul Ricoeur intitulado, precisamente, Ce qui nous fait penser. La nature de la règle. A Madalena partilha comigo o interesse pelas neurociências e, porque não dizê-lo, pela gastronomia e por outros prazeres afins.
Apesar de ela própria viver em quase permanente clima de crise existencial e afectiva ajudou-me a sair de um turbilhão de emoções negativas.

Irei proceder a um levantamento das questões abordadas ao longo do diálogo entre o "biólogo materialista e o filósofo cristão" sobre os fundamentos da moral e das normas, que me suscitaram maior curiosidade.
Jean-Pierre Changeux defende uma origem natural, neuronal do comportamento e da moral, bem assim como um discurso unificado - sob a égide da neurologia - sobre o comportamento e o pensamento. Por seu turno, Paul Ricoeur mostra-se reticente em aceitar que o neuronal e o psíquico se encontrem directamente correlacionados. Preconiza a elaboração de um terceiro discurso para além do científico e do humanista sobre a relação cérebro mente.
Uma das primeiras questões fundamentais enunciadas por Jean-Pierre Changeux é a de saber se é de manter a distinção entre o factual, o que é, e o normativo, o que deve ser, a regra moral. Ou se pelo contrário, podemos enriquecer a reflexão ética a partir do nosso conhecimento científico sobre o cérebro e as suas funções superiores, e porque não interrogarmo-nos sobre as relações entre a regra e a natureza.
Releva, no entanto, a necessidade de usar de uma certa prudência para evitar as ideologias da exclusão como aconteceu em relação à genética.
A ética como ciência objectiva da moral constitui,no entender do biólogo, uma problemática de grande actualidade.
Paul Ricoeur contrapõe afirmando que se situa numa semântica dos discursos elaborados por um lado sobre o corpo e o cérebro e por outro lado, sobre o que designa pelo mental, com as reservas que lhe fornecem as filosofias reflexiva, fenomenológica e hermenêutica. São, defende, perspectivas heterogéneas, irredutíveis e que não derivam uma da outra.


Continua

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