Poesia num Domingo quase de Estio


XIV

Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei

XVIII

Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.


Eugénio de Andrade, As Mãos e os Frutos



X e Y



X rememorou todas as viagens, todas as ruas que subiu e desceu e desceu e subiu, todas as vezes que trepou aquelas escadas, em sobressalto, pensando no filme O Tambor, em direcção a Y. O que moveria X, que necessidade, que impulso, que pulsão? Apenas a líbido ou um ímpeto, uma afeição de uma outra natureza, de uma intensidade diferente a que muitos dariam o nome de Eros, à falta de outra designação mais expressiva? A busca da outra metade da téssera?

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