Os Espellhos de Narciso (Continuação)

Mas, Narciso pressente que há uma outra beleza para além da superfície do lago. (Bachelard, 1942, 35) Valéry descreveu o percurso de auto-conhecimento do espírito lúcido que transita da contemplação necessária dos outros seres para um exercício de auto-descoberta:
Rêvez, rêvez de moi!...
Sans vous, belles fontaines,
Ma beauté, ma doleur, me seraient incertaines…
Je cherchais en vain ce que j’ai de plus cher,
Ma tendresse confuse étonnerait ma chair,
Et mes tristes regards, ignorant de mes charmes
A d’autres que moi-même adresseraient leurs larmes… (Valéry, Fragments du Narcisse, I)
Narciso volta-se para si mesmo, opera um de deslocamento do conhecimento dos outros para um exercício de auto-compreensão . Nos dois últimos versos Narciso reconhece o seu aturdimento anterior, até então andara fora de si, ignorara-se. Lavelle explicita este processo ao afirmar que a consciência de si nunca acaba de se libertar de tudo quanto ela é capaz de conter. Nós estamos tão estreitamente ligados às coisas e aos outros seres que encontramos no nosso caminho que não podemos desabrochar para nós mesmos sem que o mundo inteiro surja por meio desse nascimento. (Louis Lavelle, “Une Solitude ouverte sur Tout l’Univers,”in Archivio di Filosofia.Il Solipsismo, Alerita e Comunicazione, » (Pádua, Ed. Liviana, 1950), p.14

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