2.3.5. Da Cor e da Luz na Pintura

Comentários de Wittgenstein a propósito da Teoria das Cores de Goethe:

11.4
125. A teoria de Goethe sobre a origem do espectro não é uma teoria da sua origem, teoria que esteja provada satisfatoriamente; nem sequer é uma teoria. Nada por ela se pode predizer. É antes um vago esquema de pensamento do tipo que encontramos na psicologia de James. Não existe um experimmtum crucis para a teoria das cores de Goethe.
Quem concorda com Goethe descobre que ele reconheceu correctamente a natureza da cor. E, neste caso, "a natureza" não significa uma soma das experiências que dizem respeito à cor, mas aquilo que reside no conceito de cor.

126. Uma coisa era clara para Goethe: Nenhuma luz pode provir da escuridão - tal como sombras e mais sombras não produzem luz.
Todavia, isto pode expressar-se da seguinte maneira: podemos, por exemplo, chamar lilás a um "azul avermelhado e esbranquiçado", ou chamar castanho a um "amarelo avermelhado e enegrecido", mas não podemos chamar branco a um "azul amarelado, averme1hado e esverdeado" (ou coisa semelhante). E isto é algo que tão pouco Newton provou. Neste sentido, o branco não é uma mistura de cores.



12.4
127. "As cores" não são coisas que têm propriedades definidas, de maneira que possamos procurar ou imaginar cores que ainda não conhecemos, ou imaginar alguém que conheça cores diferentes das
nossas. É perfeitamente possível que, sob certas circunstâncias, disséssemos que alguém conhece cores que não conhecemos; mas não somos forçados a dizê-lo, pois não há nenhuma indicação do que
deveríamos considerar como analogias adequadas às nossas cores, para o podermos dizer. É equivalente a falarmos da "luz" infra-vermelha; há uma boa razão para o fazer, mas também podemos considerar um abuso.
O mesmo se verifica com o meu conceito: "sentir a dor no corpo de outra pessoa".
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

157. Olha para o teu quarto à noitinha, quando dificilmente distingues as cores; acende então a luz e pinta o que viste no crepúsculo. Há pinturas de paisagens ou de quartos na semi-escuridão: Mas como se comparam as cores dessas pinturas com aquelas que se viram na semi-obscuridade? Que diferente é esta comparação da de duas amostras de cor que tenho diante de mim e se põem lado a lado!
Wittgenstein, Anotações Sobre as Cores, (Lisboa, Edições 70, 1987), pp. 81 e 91.

Comentários

Mensagens populares