Poesia ao pequeno-almoço

Será efeito das flores de acácia, da sua cor, do seu perfume, ou, mais vulgarmente, da proximidade da Primavera, editar um segundo poema sobre o amor?

Os Amantes

Olha como um para o outro crescem:
Espírito se faz tudo em suas veias.
As suas formas tremem como eixos
a cuja volta há um girar quente e arrebatado.
Sequiosos, logo encontram que beber.
Despertos - olha: logo têm que ver.
Deixai que se afundem um no outro,
pra um no outro se vencer.


Rilke

[(Provavelmente)Paris, Maio-Junho de 1908)]

Não resisto a transcrever a composição, da qual gosto mais, da página anterior:

O Perfume

Inapreensível espírito, quem és tu?
como, donde e quando sabes tu achar-me,
tu que (como um cegar aos poucos) fazes
o íntimo tão íntimo que se fecha e revolve?
O amante; que arrebata a si uma mulher,
não a tem perto; só tu é que és o perto.
Quem é que tu não embebeste como se de repente
te fizesses a cor mesma dos seus olhos?

Ai, quem visse música num espelho,
ver-te-ia e saberia dizer o teu nome.

Rilke

[Primeiro esboço Paris, fim de Agosto de 1907, provavelmente concluído na 1ª metade de 1908.]

Rainer Maria Rilke, Poemas, As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu, (Porto, O Oiro do Dia, 1983), pp.308-309.

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