O Magnífico Automóvel de Egas Moniz

Depois de ter feito o segundo comentário ao post "A Controvérsia (2)" de Manuel Correia, no seu blog Egas Moniz, lembrei-me de afirmações de Barahona Fernandes,ao explicar as causas da sua opção pela medicina, que evidenciam o profundo fascínio exercido por Egas Moniz, desde a sua juventude. Na secção intitulada "Relance Autobiográfico" incluída no primeiro capítulo do seu livro, Antropociências da Psiquiatria e da Saúde Mental, declarou o seguinte:

A auréola, já então brilhante, de Egas Moniz não deve ter sido estranha a essa motivação. Deixem-me recordar um pequeno episódio(cuja interpretação vos deixo). Numa das vezes que, no fim da tarde, regressava do consultório, "o Egas" (como meu pai dizia) convidou-me para ir para casa no seu magnífico automóvel (no começo dos anos vinte, ainda não vulgarizado como hoje) e sentou-me no banco de trás, à sua direita. Ante o protesto do tímido estudantinho, afirmou então, no tom cordial que lhe era peculiar: "é uma velha tradição coimbrã, não podes recusar..."
Mesmo nos mais desafogados parámos da fantasia e do desejo, jamais ousara tecer os rumos que o futuro me reservaria - colaborador, depois colega de Egas Moniz na Faculdade e na Academia das Ciências, pesquisador da sua ousada descoberta da leucotomia, sobre que discursaria, em 1950 no grande Anfiteatro da Sorbonne, no I Congresso Mundial de Psiquiatria (...)


Barahona Fernandes, Antropociências da Psiquiatria e da Saúde Mental, (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998), pp.20-21.

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