Um jardineiro à procura do sentido da vida
Ontem à noite preferia ter ido ver o Ballet Gulbenkian, mas as condições atmosféricas, bem assim como condicionantes psíquicas e físicas, levaram-me a optar por permanecer em casa. Assim, entreguei-me à leitura, acabei de ler O jardineiro do rei de Frédéric Richaud, (Lisboa, Temas e Debates, 2002).
Um jardineiro, filósofo e sábio, interroga-se sobre questões éticas e políticas, reflecte sobre as causas e a legitimidade do poder e da autoridade, dedica-se à filosofia naturalista enquanto cultiva com empenho os vegetais que vão à mesa do Rei-Sol. Simultaneamente, procura ajudar os pobres camponeses da região de Versalhes ensinando-lhes técnicas agrícolas, disponibilizando sementes e alimentos, julgando, deste modo, ter encontrado uma justificação para a sua existência. Após assistir à loucura colectiva provocada pela passagem do cometa Halley, a uma série de guerras e conflitos religioso absurdos, ao receber a notícia da morte do seu melhor amigo, ao observar os camponeses esbanjar os alimentos de que tanto careciam em oferendas aos Delfins, num completo estado de alienação devido ao nascimento do neto do rei, o jardineiro põe em causa todas as suas convicções. Todos os factos, atrás mencionados, conduzem-no à conclusão da vacuidade do seu esforço, frutos da mera vaidade e presunção. Afinal, ele nada sabia e nada podia fazer para mudar o decurso dos acontecimentos e alterar a vida e a mentalidade dos outros. Acaba, paradoxalmente, por encontrar o sentido da sua vida na loucura e na morte. A morte como condição de outras vidas, à maneira de Hegel. E mais não digo.
Um extracto alusivo à fase filantrópica do jardineiro:
"VOU FAZER AQUILO PARA QUE NASCI." La Quintinie nascera para alimentar os seus semelhantes, para lhes proporcionar o melhor do que a natureza tão pacientemente lhe oferecia.
Então, freneticamente, retomou o trabalho. De manhã à noite, afadigava-se, com os seus ajudantes, a sachar, a cavar, a transportar frutos e legumes para os celeiros ou as estufas, a arrancar ervas daninhas. Por vezes, desaparecia durante dias inteiros, ia juntar-se aos camponeses com as algibeiras carregadas de sementes ou livros; percorria os corredores atravancados de gente dos hospitais de campanha a fim de dispensar cuidados e palavras de reconforto. Já não queria pensar, porque pensar não servia de nada. Apenas dar, dar cada vez mais, até ao limite das suas forças... Op. cit. p.96.
Ontem à noite preferia ter ido ver o Ballet Gulbenkian, mas as condições atmosféricas, bem assim como condicionantes psíquicas e físicas, levaram-me a optar por permanecer em casa. Assim, entreguei-me à leitura, acabei de ler O jardineiro do rei de Frédéric Richaud, (Lisboa, Temas e Debates, 2002).
Um jardineiro, filósofo e sábio, interroga-se sobre questões éticas e políticas, reflecte sobre as causas e a legitimidade do poder e da autoridade, dedica-se à filosofia naturalista enquanto cultiva com empenho os vegetais que vão à mesa do Rei-Sol. Simultaneamente, procura ajudar os pobres camponeses da região de Versalhes ensinando-lhes técnicas agrícolas, disponibilizando sementes e alimentos, julgando, deste modo, ter encontrado uma justificação para a sua existência. Após assistir à loucura colectiva provocada pela passagem do cometa Halley, a uma série de guerras e conflitos religioso absurdos, ao receber a notícia da morte do seu melhor amigo, ao observar os camponeses esbanjar os alimentos de que tanto careciam em oferendas aos Delfins, num completo estado de alienação devido ao nascimento do neto do rei, o jardineiro põe em causa todas as suas convicções. Todos os factos, atrás mencionados, conduzem-no à conclusão da vacuidade do seu esforço, frutos da mera vaidade e presunção. Afinal, ele nada sabia e nada podia fazer para mudar o decurso dos acontecimentos e alterar a vida e a mentalidade dos outros. Acaba, paradoxalmente, por encontrar o sentido da sua vida na loucura e na morte. A morte como condição de outras vidas, à maneira de Hegel. E mais não digo.
Um extracto alusivo à fase filantrópica do jardineiro:
"VOU FAZER AQUILO PARA QUE NASCI." La Quintinie nascera para alimentar os seus semelhantes, para lhes proporcionar o melhor do que a natureza tão pacientemente lhe oferecia.
Então, freneticamente, retomou o trabalho. De manhã à noite, afadigava-se, com os seus ajudantes, a sachar, a cavar, a transportar frutos e legumes para os celeiros ou as estufas, a arrancar ervas daninhas. Por vezes, desaparecia durante dias inteiros, ia juntar-se aos camponeses com as algibeiras carregadas de sementes ou livros; percorria os corredores atravancados de gente dos hospitais de campanha a fim de dispensar cuidados e palavras de reconforto. Já não queria pensar, porque pensar não servia de nada. Apenas dar, dar cada vez mais, até ao limite das suas forças... Op. cit. p.96.
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