Do tempo em Agosto

Do tempo em Agosto

Agosto suscita a reflexão sobre o tempo. Não vou escrever sobre meteorologia. Não estou preocupada com o clima, com a temperatura ideal para ir à praia ou fazer um piquenique no campo...
Em Agosto pensa-se acerca da natureza do tempo, em Agosto pensa-se na transitoriedade de tudo. Na sucessão simultaneamente lenta e célere das horas e dos dias. Na vontade de viver e de morrer. Em Agosto também nos sentamos ao lado do tempo, a vê-lo passar, a fruir cada segundo atirado ao ar. Agosto é um compasso de espera, um mês propício à meditação. Em Agosto lê-se O Conceito de Tempo de Heidegger à procura de pistas sobre a essência do tempo:

O fim do meu ser-aí, a minha morte, não é algo que suspenda um percurso, mas sim uma possibilidade, que o ser-aí de alguma maneira conhece: a sua possibilidade mais extrema, que ele pode captar e de que se pode apropriar de modo iminente. O ser-aí tem em si mesmo a possibilidade de se deparar com a sua morte enquanto a mais extrema das possibilidades de si mesmo. Esta possibilidade extrema de ser é uma certeza, com o carácter de iminência, mas esta certeza, pelo seu lado, caracteriza-se por uma indeterminabilidade total. A auto-interpretação do ser-aí que supera qualquer outro enunciado quer no que respeita à certeza, quer ao ser-em-propriedade, é a interpretação da sua morte, a certeza indeterminada da mais própria possibilidade do estar-no-fim.


Martin Heidegger, O Conceito de Tempo, (Lisboa, Fim de Século, 2003), pp. 45-47.

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