Do Perpétuo Confinamento e da Calúnia Infame
E lá se passou mais um fim de semana confinada aos portões do Júlio,o malfadado hospital, dando forma gráfica aos meus protestos e lendo a História da Loucura na Idade Clássica,do meu guru Michel Foucault - Louis Foucault, não convence... não é? Acho que vou abandonar a obsessão pelos luises e mudar de letra, até porque a bem dizer, eu só amei, com convicção, o primeiro Luis da lista, o querido Luis Ambrósio,de saudosa memória - no intuito de fundamentar as minhas queixas contra a instituição. Eis senão quando, me tiram o livro e o substituem por outro de uma conceituada psiquiatra portuguesa. (Claro que também irei contestar este atentado à minha sacrossanta liberdade de acção, irei gritar contra esta inenarrável intromissão nas minhas leituras,proclamar a minha visceral indignação perante este cercear crimoso da minha formação intelectual).
De qualquer modo, dada a minha insaciável curiosidade folheei a dita obra e deparei com a mensagem que pretendiam realmente transmitir-me, com a insinuação de que sofro de síndrome de dependência do álcool, vulgus, alcoolismo. Ora leiam lá e vejam com os vossos próprios olhos, se eu não tenho razão:
Estou a lembrar-me de um episódio insólito mas significativo, ocorrido com um doente alcoólico do Hospital Sobral Cid. Pretendia eu passar-lhe a mensagem dos perigos que enfrentava ingerindo vinho sem controle, como era seu hábito. Ao fim de me ouvir atentamente ao longo do internamento, no dia da alta, desabafou:
"A senhora doutora falou muito bem e eu até percebi, mas vou muito baralhado para casa, sem saber como hei-de matar a sede. Como é que eu posso começar a beber água, se ainda no outro dia lá esteve outra senhora, a falar muito bem para todos e a explicar que a água era tão perigosa que até era preciso fervê-la! Pensando bem, o vinho sempre é feito por mim e ao menos sei que é de confiança..."
Para que possam adquirir o livro e comprovar que a razão está mesmo do meu lado,e tudo isto não passa de uma conspiração, de uma tramóia execrável contra a minha identidade, dou-vos as indicações bibliográficas precisas:
Maria Manuela de Mendonça, Mais Vale Prevenir... Memórias de uma Época e de um Contributo para a Saúde Mental Infantil, (Coimbra, Minerva Coimbra, 2002), p.259.
Que despautério, que calúnia, que infâmia!Tenho que zelar pela minha reputação, pelo meu bom nome! Logo eu que só aprecio e bebo eau-de-vie aromatizada, apenas e tão somente, por moi-même!
Eu também:
"Sou muito optimista. Não acredito em nada mas faço como se acreditasse e ajo como se acreditasse." João dos Santos
Non sense
So far so close
Eyes running in
Blow up
E lá se passou mais um fim de semana confinada aos portões do Júlio,o malfadado hospital, dando forma gráfica aos meus protestos e lendo a História da Loucura na Idade Clássica,do meu guru Michel Foucault - Louis Foucault, não convence... não é? Acho que vou abandonar a obsessão pelos luises e mudar de letra, até porque a bem dizer, eu só amei, com convicção, o primeiro Luis da lista, o querido Luis Ambrósio,de saudosa memória - no intuito de fundamentar as minhas queixas contra a instituição. Eis senão quando, me tiram o livro e o substituem por outro de uma conceituada psiquiatra portuguesa. (Claro que também irei contestar este atentado à minha sacrossanta liberdade de acção, irei gritar contra esta inenarrável intromissão nas minhas leituras,proclamar a minha visceral indignação perante este cercear crimoso da minha formação intelectual).
De qualquer modo, dada a minha insaciável curiosidade folheei a dita obra e deparei com a mensagem que pretendiam realmente transmitir-me, com a insinuação de que sofro de síndrome de dependência do álcool, vulgus, alcoolismo. Ora leiam lá e vejam com os vossos próprios olhos, se eu não tenho razão:
Estou a lembrar-me de um episódio insólito mas significativo, ocorrido com um doente alcoólico do Hospital Sobral Cid. Pretendia eu passar-lhe a mensagem dos perigos que enfrentava ingerindo vinho sem controle, como era seu hábito. Ao fim de me ouvir atentamente ao longo do internamento, no dia da alta, desabafou:
"A senhora doutora falou muito bem e eu até percebi, mas vou muito baralhado para casa, sem saber como hei-de matar a sede. Como é que eu posso começar a beber água, se ainda no outro dia lá esteve outra senhora, a falar muito bem para todos e a explicar que a água era tão perigosa que até era preciso fervê-la! Pensando bem, o vinho sempre é feito por mim e ao menos sei que é de confiança..."
Para que possam adquirir o livro e comprovar que a razão está mesmo do meu lado,e tudo isto não passa de uma conspiração, de uma tramóia execrável contra a minha identidade, dou-vos as indicações bibliográficas precisas:
Maria Manuela de Mendonça, Mais Vale Prevenir... Memórias de uma Época e de um Contributo para a Saúde Mental Infantil, (Coimbra, Minerva Coimbra, 2002), p.259.
Que despautério, que calúnia, que infâmia!Tenho que zelar pela minha reputação, pelo meu bom nome! Logo eu que só aprecio e bebo eau-de-vie aromatizada, apenas e tão somente, por moi-même!
Eu também:
"Sou muito optimista. Não acredito em nada mas faço como se acreditasse e ajo como se acreditasse." João dos Santos
Non sense
So far so close
Eyes running in
Blow up
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