Filosofia do tempo

Tem a palavra, Kant:

"O espaço e o tempo são portanto duas fontes de conhecimento das quais se podem extrair a priori diversos conhecimentos sintéticos, do que nos dá brilhante exemplo sobretudo a matemática pura, no que se refere ao conhecimento do espaço e das suas relações. Tomados conjuntamente são formas puras de toda a intuição sensível, possibilitando assim as proposições sintéticas a priori. Mas estas fontes de conhecimento a priori determinam os seus limites precisamente por isso (por serem simples condições da sensibilidade); é que eles dirigem-se somente aos objectos enquanto são considerados como fenómenos, mas não representam coisas em si. Só os fenómenos constituem o campo da sua validade; saindo desse campo já não se pode fazer uso objectivo dessas fontes. Esta realidade do espaço e do tempo deixa de resto, intacta a certeza do conhecimento por experiência para nós igualmente seguro, quer essas formas sejam necessariamente inerentes às coisas em si mesmas, quer apenas à nossa intuição das coisas. Pelo contrário, os que afirmam a realidade absoluta do espaço e do tempo, quer os considerem substâncias ou acidentes, têm que se colocar em contradição com os próprios princípios da experiência. Se optam pelo primeiro partido (que geralmente tomam os físicos matemáticos) têm de aceitar dois não-seres eternos e infinitos, existindo por si mesmos (o espaço e o tempo), que existem (sem serem contudo algo de real), somente para abranger em si tudo o que é real. Se tomam o segundo partido (a que pertencem alguns físicos metafísicos) e consideram o espaço e o tempo como relações dos fenómenos (relações de justaposição e sucessão) abstraídas da experiência (embora confusamente representadas nessa abstracção) têm de contestar a validade das teorias matemáticas a priori, relativamente às coisas reais (por exemplo, no espaço), ou, pelo menos, a sua certeza apodíctica, pois uma tal certeza apenas se verifica a posteriori; os conceitos a priori de espaço e de tempo, segundo esta opinião, seriam apenas produto da imaginação e a sua fonte deveria realmente procurar-se na experiência.» Kant, Crítica da Razão Pura, ( Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985), pp. 76/77.



Comentários

Mensagens populares