Duas vias para a compreensão do pensamento hermenêutico: Heidegger e Paul Ricoeur


I

Fenomenologia e Hermenêutica

Heidegger e Paul Ricoeur representam duas coordenadas fundamentais para a compreensão global do objecto e da função primordial da hermenêutica no pensamento contemporâneo.

Uma das vias de aproximação entre Heidegger e Paul Ricoeur passa pela Fenomenologia. Ambos partiram da Fenomenologia eidética como horizonte de reflexão, ambos consideraram a possibilidade de uma Fenomenologia hermenêutica, confirmando esta tese com argumentos bastante convincentes, apresentando algumas das razões apontadas por Heidegger e Ricoeur algumas afinidades.
Ricoeur tal como Heidegger reconsiderou a relação entre a Fenomenologia e a Hermenêutica, com especial relevo na sua forma ontológica existencial.
A Fenomenologia e a Hermenêutica num certo sentido, já haviam sido fundidas por Heidegger, quando este introduziu o termo de Dilthey, "Hermenêutica", a fim de se poder distinguir a sua visão fenomenológica da Filosofia de Husserl.
Heidegger criticou, com veemência, a Fenomenologia Transcendental insistindo na interpretação dos fenómenos na relação com a essência dos mesmos. Como hermenêutica a sua Filosofia procedeu de um Da-sein dado pela determinação do sentido da existência, para mais tarde, tomar a forma de uma ontologia fundamental. Ao pôr a questão do Da-sein pretenderia superar o modelo antropológico de um ego como fonte última da actividade do conhecimento. Ricoeur também fez incidir a sua crítica sobre este ponto.

De acordo com Heidegger, Husserl ao preconizar a regressão ao sujeito transcendental teria tropeçado no caminho do vivido em vez de explicitar o fenómeno, de lhe determinar a significação existencial. Teria explicitado o seu sentido real no âmbito da ciência. Deste modo não se poderia processar o retorno às coisas.
Também o fenómeno não seria o que se descobre ao sujeito, fazendo-o Ek-sistir, seria a imagem esquemática que o sujeito descobre, ao mesmo tempo que o convidaria a conceber-se segundo o modelo abstracto do objecto. Afinal a subjectividade em Husserl identificar-se-ia com a representação transcendental do cogito cartesiano, o modelo abstracto do objecto concluiu Heidegger, "cogito" esse que se pensa objectivamente em face do mundo. Husserl, deveria descrever e mostrar como se articulam as significações concretas com o sentido, com a verdade do ser; em lugar disso limitou-se a reduzi-las nas suas relações formais e à relação abstracta que mantém com o “Eu Absoluto.”

Husserl, segundo Heidegger, substituiu a análise da vida concreta, pela contemplação da Ideia. A questão do sentido seria uma questão de essências.A Fenomenologia deveria ser primeiramente um método que permitisse à reflexão compreender a especificidade e a ligação entre os diversos fenómenos.
A Fenomenologia constituiria, de certo modo, uma hermenêutica da existência histórica. Esta tentativa de interpretação nunca teria sido superada, pois o sentido não representaria uma realidade dissimulada, o sentido mesmo dos fenómenos não seria algo escondido por detrás dos fenómenos, nem constituiria tão pouco uma essência transcendente na qual eles encontrariam a razão de ser da sua unidade: o sentido seria em si mesmo um fenómeno mais profundo — o acontecer do seu desvelamento — aquilo sem o qual não se apreenderiam os fenómenos, nem eles se mostram. O sentido seria, assim, aquilo pelo qual os fenómenos se tornam inteligíveis.
A Fenomenologia surgiria como uma hermenêutica do sentido da existência, ela interrogar-se-ia acerca do "surto" do ser. Heidegger propôs, em substituição da Fenomenologia Transcendental uma Fenomenologia Hermenêutica. A reflexão não deveria explicar a realidade dos fenómenos mas antes explicitar as suas possibilidades. A Fenomenologia é fundamentalmente uma hermenêutica da existência humana do Da-sein) tal como ele aparece e do ser alarga o horizonte de toda a pesquisa ontológica ulterior, relativa ao ente diferente do Ser-aí; Esta Hermenêutica consistiria também numa explicitação de condições (ontológicas) de possibilidade de toda a pesquisa ontológica. Assim sendo, porque o Da-sein possui um primado ontológico sobre todos os outros entes, porque ele é o ente que é, segundo a possibilidade da existência.
A Hermenêutica enquanto explicitação do Ser-aí adquiriria um terceiro sentido específico (que é, filosoficamente compreendido o primeiro) − ela é uma analítica da existencialidade da existência. Esta Hermenêutica explicitaria ontologicamente a historicidade do Ser-aí como condição ôntica da possibilidade da história. Na Hermenêutica assim compreendida, fundamentar-se-ia a nostalgia das Ciências históricas do espírito.
A compreensão é como projecto, o mundo do Da-sein, segundo o qual este é as suas possibilidades enquanto tais.
Designa-se explicitação o desenvolvimento da compreensão. Através da explicitação a compreensão apropria-se daquilo que ela compreendeu sob um novo modo de compreender.
o círculo característico da compreensão não é um círculo fatal no qual toda e qualquer forma do conhecimento teria que se mover . Ele é a expressão da estrutura existencial da antecipação do ser ele-mesmo.

Ricoeur tal como Heidegger, segue Husserl apenas no que concerne à Fenomenologia Eidética, Ricoeur defende a tese de que a Fenomenologia permanece a indispensável pressuposição da teoria hermenêutica.
A teoria hermenêutica pode explicar as condições da compreensão hermenêutica apenas pela referência à linguagem e a uma teoria do sentido nelas pressuposta. Neste contexto a noção de sentido tem a mesma significação e a mesma intenção da intencionalidade.
A"époche" no mundo linguístico pode ser considerada como um movimento de "distanciação". Neste momento o modo como "trocámos" os signos por coisas, significa já por si uma tematização e o sentido que daí emerge deve ser interpretado. Este e o momento crítico dentro do qual também o próprio sujeito se encontra imbrincado.
Ricoeur aponta igualmente para a primazia da experiência na relação linguística. É preciso conceber a Fenomenologia ou melhor, o seu método, como exegése, explicação e interpretação do sentido da existência.
Uma Fenomenologia hermenêutica permite definir as relações entre o mundo da vida. Permite estabelecer a análise noemática de esferas pré-linguísticas. Como as experiências da arte como jogo. Pode designar o sentido da experiência de vida, aquilo que torna possível a atitude "objectivante" e explicativa.
Em Le conflit des interprétations, o filósofo francês procura «defender a legitimidade de uma filosofia da interpretação»e fazer a sua apologia. Neste texto afirmou também considerar absolutamente indispensável a articulação da hermenêutica e da fenomenologia bem assim como «a renovação da fenomenologia pela hermenêutica» Paul Ricoeur, O Conflito das Interpretações, (Porto, Rés-Editora, s/d), pp. 5 e 6.
A referida renovação seria passível de concretizar-se, em seu entender, de duas formas, a primeira designada por via curta da compreensão e que foi escolhida por Heidegger, a segunda a via longa, proposta por Ricoeur representaria uma forma mais mediata com recurso ao método:
«A via curta é a de uma ontologia da compreensão, à maneira de Heidegger. Chamo 'via curta' a uma tal ontologia da compreensão porque, rompendo com os debates de método, se aplica imediatamente no plano de uma ontologia do ser finito, para aí encontrar o compreender, já não como um modo de conhecimento, mas como um modo de ser. Não se entra pouco a pouco nesta ontologia da compreensão; não se chega a ela gradualmente, aprofundando as exigências metodológicas da exegese, da história ou da psicanálise: transportamo-nos até ela através de uma súbita inversão da problemática. A questão 'em que condição um sujeito que conhece pode compreender um texto, ou a história?' é substituída pela questão 'o que é um ser cujo ser consiste em compreender?' O problema hermenêutico torna-se assim uma província da Analítica desse ser, o Dasein, que existe ao compreender. Quero primeiro prestar inteira justiça a essa antologia da compreensão, antes de dizer porque proponho seguir um caminho mais desviado e mais laborioso, preparado por considerações linguísticas e semânticas.» Idem, p. 8.

Ao distanciar-se de Heidegger, Ricoeur não teria como finalidade questionar a sua «ontologia da compreensão».Todavia, o autor considerou imprescindível a uma «ontologia da compreensão» a ligação com uma «epistemologia da interpretação»{Maria luísa Portocarrero Ferreira da Silva, A Hermenêutica do Conflito em Paul Ricoeur, (Coimbra, Livraria Minerva, 1992), p. 19.
A consequência epistemológica da hermenêutica heideggeriana, que se por um lado subverte, por outro concretiza a fenomenologia husserliana e os seus objectivos primeiros (Paul Ricoeur, Do Texto à Acção, Porto, Rés Editora, s/d), p. 40 é que «não há compreensão de si que não seja mediada por signos, símbolos e textos; a compreensão de si coincide, em última análise, com a interpretação aplicada a estes termos mediadores» (Idem, p. 40.) .
A mediação dos signos alerta-nos para a língua como lugar onde a experiência do homem se manifesta. As experiências humanas, desde as mais íntimas e ínfimas às mais colectivas e grandiosas, traduzem-se na linguagem.
A mediação pelos símbolos apela para as «expressões de duplo sentido» que surgem em todas as comunidades. Ricoeur advoga a existência de um «fundo simbólico comum da humanidade» (Idem,p.41.). A interpretação dos símbolos implica e requer a tarefa hermenêutica. Tarefa essa que não deve, no entanto, reduzir-se à interpretação dos símbolos pois, é inserindo-os no texto que podemos recuperar o sentido, além de que os mesmos símbolos podem permitir diferentes interpretações em conflito.

Ricoeur advogou uma via menos imediata, pois a ontologia da compreensão de Heidegger parecia-lhe demasiado rápida, ou seja, «curta» deixando vários problemas por resolver, a saber: «Como (...) dar um organon à exegese, isto é, à inteligência dos textos? Como fundamentar as ciências históricas face às ciências da natureza? Como arbitrar o conflito de interpretações rivais?» O Conflito das Interpretações. Porto: Rés Editora, Lda., p. 12.
A via hermenêutica de Heidegger seria ainda demasiado curta porque implicaria a impossível passagem directa da epistemologia para a ontologia, a passagem «do compreender como modo de conhecimento, ao compreender como modo de ser» (Idem, p. 12.).
«Não é, mais uma vez, na própria linguagem que é preciso procurar a indicação que a compreensão é um modo de ser?», interrogou-se Ricoeur , na sua réplica à tomada de posição heideggeriana(Idem, p. 12). o acesso à existência implica o «desvio pela semântica»(Idem p.13).Deste modo, a compreensão das expressões simbólicas e das narrativas não se reduziria apenas a um trabalho de exegese, mas constituiria uma etapa indispensável na caminhada que o homem realiza procurando a compreensão de si próprio. Isto implicaria que a abordagem semântica se encadeie, assim, numa abordagem reflexiva(idem p.13).

A hermenêutica representaria um importante contributo para a reflexão filosófica. Mais do que um exercício de interpretação, ela pressuporia uma nova forma de o homem se situar face à realidade e a si próprio, na medida em que «contribui para dissipar a ilusão de um conhecimento intuitivo de si, impondo à compreensão de si a grande digressão pelo tesouro dos símbolos transmitidos pelas culturas, no seio das quais nós ascendemos, ao mesmo tempo, à existência e à fala»(, Paul Ricoeur, Do Texto à Acção, ( Porto, Rés-Editora, s/d), pp. 41 e 42.


Mediante o recurso à hermenêutica de via longa, Ricoeur levará mais longe a destruição, já iniciada por outros, de um sujeito que numa intuição se reconhece a si próprio enquanto ser pensante - destruição de uma consciência imediata de si!
O sujeito que emerge desta via longa hermenêutico-fenomenológica não se identifica com o cogito cartesiano, pois, como vimos anteriormente, o homem chega à compreensão de si através da compreensão dos textos, dos símbolos e dos signos: «É um existente que descobre, pela exegese da sua vida, que está posto no ser mesmo antes de se pôr e de se possuir. Assim, a hermeneutica descobriria uma maneira de existir que permaneceria de ponta a ponta ser-interpretado. Só a reflexão, abolindo-se a si mesma como reflexão, pode reconduzir às raízes ontológicas da compreensão. Mas isto não deixa de acontecer na linguagem e através do movimento da reflexão.» Ricoeur, O Conflito das Interpretações,( Porto, Rés Editora,s/d), p. 13.
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No lugar da «consciência de si» é colocado um si mais rico e profundo que só se reconhece nos seus actos e nas suas obras: «A reflexão é uma intuição cega se não é mediatizada por aquilo a que Dilthey chamava as expressões nas quais a vida se objectiva. Para empregar uma outra linguagem, a de Jean Nabert, a reflexão apenas poderia ser a apropriação do nosso acto de existir, por meio de uma crítica aplicada às obras e aos actos que são os sinais desse acto de existir.» Idem, p. 19..
A tarefa reflexiva da filosofia implicará a tarefa de arbitragem de interpretações rivais: arbitrar o conflito de interpretações (desde a psicanálise - orientada para a arché, à ciência da religião projectada para um telos).
A reflexão assume um papel extremamente importante na obra de Ricoeur pois, como afirma Olivier Mongin, «ela assegura (...) a ligação da via curta e da via longa» da hermenêutica. Olivier Mongin, Paul Ricoeur, (Paris, Éditions du Seuil, 1994), p. 64.
,. O sujeito que deixou de ser consciência imediata, ser pensante, cogito, só poderá apropriar-se de si através da interpretação das suas obras (actos, objectos e textos). A reflexão surge assim no término desta «via longa» numa união da ontologia e da hermenêutica, do ser e das suas expressões. (Idem, p. 64)
A filosofia é reflexão mas já não é filosofia do cogito, da consciência. A questão da filosofia é ontológica, é a questão do ser. De um ser que se revela em múltiplas formas - no conceito mas também no símbolo e na metáfora -, exigindo múltiplas interpretações, seguidas de um esforço de reflexão.
Concluímos que tanto Heidegger como Ricoeur definem a Fenomenologia como uma hermenêutica do sentido da existência.


II

Modos de pensar e dizer


Paul Ricoeur procedeu a um levantamento das estruturas fundamentais do texto servindo-se (para além da já referida Fenomenologia descritiva), dos contributos da Psicanálise, do estruturalismo, de Gadamer, de Gabriel Marcel e do próprio Heidegger. Ricoeur combateu o relativismo e o negativismo herdados de certas correntes existencialistas, apontando para uma perspectiva positiva, e, até mesmo optimista do sentido do homem, do seu destino e do sentido da Existência humana.

Por seu turno, a Linguagem heideggeriana é muito complexa e apresenta uma ressonância muito particular. Os termos correntes revestem-se de nova significação, diferente da usual; essa nova significação atribuída por Heidegger às palavras, resulta na maior parte das vezes de um estudo etimológico original e profundo.

O autor do "Sein und Zeit" recorreu à riqueza da Língua Alemã, servindo-se de todos os recursos que esta lhe oferecia. Heidegger, recriou as palavras, acrescentando à raiz germânica sufixos e prefixos. O uso de neologismos e de verbos substantivados por demais abundante. Todos estes factores dificultam a leitura do texto heideggariano, exigem atenção e espírito de pesquisa, esforço intelectual.
Mas, uma vez na posse da cifra a complexidade do código heideggariano desvanece-se gradualmente, embora persista um fundo por assim dizer intransponível de dificuldade, o qual representa a dificuldade intrínseca ao próprio esforço do pensar. Pensar esse, que é suscitado pela linguagem. É o Acontecimento da Palavra que suscita o do Pensamento; ou seja da Filosofia.. Pensar significa corresponder à palavra do Ser. Todavia, Heidegger não identifica Linguagem e Pensamento, uma diferença os percorre, recusando, assim, a identificação hegeliana entre o Espírito Humano e a Linguagem.
Pela linguagem o homem acede ao mundo da "Ek-sistência". A linguagem não é, por conseguinte, apenas uma mera possibilidade particular atribuída ao homem, sendo antes uma determinação essencial do seu ser. A Linguagem constitui um modo de ser, uma estrutura da "Ek-sistência". É o existencial fundamental a partir do qual, as coisas se recortam e ganham consistência. A situação e a compreensão, os outros "existenciais", vislumbram-se; tomam "sentido" à luz da Linguagem.
O jogo da "compreensão" e da "situação", torna-se possível pelo discurso que e a articulação significativa da compreensão do ser-no-mundo no seu sentimento de situação.
O homem é um ser possuído pela linguagem. Mediante a linguagem o Da-sein desperta para o seu ser e "vigia" o ser das coisas. A linguagem opera o "des-velamento" das significações concretas do mundo. Mas, ao mesmo tempo que re-vela oculta.
O sentido do discurso nunca é construído, é sempre descoberto. O mundo surge investido de significações. A linguagem e uma leitura hermenêutica da "experiência". O homem compreende o mundo, sempre no interior de um projecto interpretativo, cuja linguagem é a única justificação. À fórmula de Schopenhauer "O mundo é a minha representação", Heidegger propõe o seguinte: "O mundo é a minha interpretação".
A Linguagem é um acontecimento. A palavra é a marca do Acontecimento interior à Linguagem. A escrita encerra em si a Tradição do Ser. (A Linguagem é o lugar onde habita o pensamento).

Paul Ricoeur, inscreve-se na linha heideggariana ao demonstrar que a relação entre o significado e o significante, se articula com a ligação mais fundamental da palavra com a Língua na unidade do discurso. A linguagem é um evento, um acontecimento (a palavra), mais do que um mero sistema de signos (ou seja, a língua).

Ricoeur também adoptou o conceito de Dilthey quanto à Hermenêutica; esta é a "interpretação das expressões de vida linguisticamente fixadas". Como afirma o próprio Ricoeur, a condição linguageira tem ela mesma a sua pressuposição numa teoria geral do sentido. É preciso supor que a experiência em toda a sua amplitude, tem uma dizibilidade de princípio. A experiência pode ser dita, ela pede para ser dita. Trazê-la à linguagem não é transformá-la em outra coisa, mas articulá-la, desenvolvendo-a, fazendo-a tornar-se ela mesma.
Tal é a pressuposição de sentido que a exegese e a Filologia transpõem em obra, ao nível de uma certa categoria de textos, aqueles que contribuíram para a nossa Tradição histórica. A exegese e a Filologia podem preceder historicamente a tomada de consciência fenomenológica, esta precede-as na ordem da fundação.

A reflexão de Paul Ricoeur, explicita um movimento que apenas está pressuposto em Heidegger uma vez que a reflexão de Ricoeur, não parte do ser para pensar o sentido da Linguagem, mas da própria linguagem para pensar o ser.
Heidegger, coloca as questões de um modo radical, "demasiado" radical não procurando considerar qualquer problema particular concernente ao conhecimento deste ou daquele ente.Heidegger queria subordinar o conhecimento histórico ao entendimento ontológico como uma forma derivada de uma forma primordial.
Para este autor, a Metafísica não designaria apenas o desenvolvimento histórico do pensamento Ocidental, mas também a linguagem e os modelos de reflexão que presidiram à sua elaboração. Não é a história que constitui o liame desta unidade, é antes a persistência das próprias estruturas do pensamento, através de sistemas aparentemente muito diversos.
Os temas filosóficos são variações, testemunhando a presença de um "esquematismo comum", ao qual Heidegger liga a história do pensamento.


No plano hermenêutico, Ricoeur tentou reconstruir os textos, procurando restituir ao mundo o verdadeiro discurso dos autores por ele interpretados. Ricoeur procedeu a um levantamento das questões subreptícias apenas afloradas pelo autor, pesquisa as articulações de sentidos encobertas pelo próprio autor, ainda que este o tenha feito inconscientemente; e assim que Paul Ricoeur faz aparecer o real significado dos textos.
Heidegger situa-se numa dimensão mais "anfibológica" de certo modo, o seu percurso e o da constituição de uma antologia fundamental, o seu dizer e poetizante. Todas as questões são reconduzidas, por este autor, à questão do Esquecimento do ser, demarcando consequentemente o estatuto do Da-sein como ser aí, ser no mundo, aberto ao ser e pelo qual o ser se desvela o pensamento de Heidegger procura a essência do homem na verdade do ser.

O ofício de pensar em Heidegger dirige-se para uma via que (tenta) questionar historialmente preparando o caminho do pensar a vir.
Heidegger reclama um ir à origem, um mergulho vertical no dizer do ser, e uma exegese deste recolher, reencontrar o que e primordial ou seja o ser na sua irradiação.
Este aparecer, este revelar do ser introduz a consideração do ocultamento, o que se revela supõe antes um estar oculto e ao revelar-se permanece ainda oculto.

É a indicação positiva do mistério, do Sacral de Todas as coisas, do luzir e do vislumbrar. Não há um horizontalismo no conhecimento da verdade, mas uma leitura vertical, um agarrar e reunir em profundidade o que está no cerne.
Não há sobreposições antes uma interrogação estabelecendo-se o diálogo. A palavra do ser e invocada. Há uma "presença" oculta.
No tempo se pronuncia e acontece esta relação de abertura ao ser.
Em virtude da orientação interrogativa e intrínseca à Filosofia, esta possui necessariamente uma função interpretativa. A Linguagem por um lado revela mas também esconde, e ambígua.

Heidegger e Ricoeur coincidem quanto à tarefa essencialmente interpretativa da Filosofia. Precisamente por isso os consideramos as duas coordenadas mais importantes e constituidoras da Hermenêutica contemporânea.

Comentários

Anónimo disse…
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