Digitalis consiste num caderno estruturado em torno de três blocos de apontamentos:
1. Apontamentos criativos/esboços literários.
2. Reflexões sobre filosofia e estética.
3. Estudos de história e filosofia da neurologia, psiquiatria e questões de género.
1.
1.1.
Após a esperada morte de Franz e mais familiarizado com a dor provocada pela perda do seu amigo, Max começou a organizar os papeis do falecido. Estava embrenhado nessa tarefa quando encontrou um volumoso conjunto de folhas de papel almaço entre um molho de documentos e folhas brancas dentro de uma gaveta da papeleira do quarto de Franz. Abriu as folhas de papel almaço, leu os desabafos e projectos ali registados. Emocionado com a descoberta do diário do escritor, Max logo pensou na possibilidade de publicá-lo. Mas, de imediato evocou a imagem do amigo a pedir-lhe para queimar todos os seus textos.
No entender de Max a recusa de Franz quanto à divulgação e publicação das suas obras seria fruto do seu perfeccionismo. A pretensão de destruir a sua produção não se devia ao facto de julgá-la desprovida de mérito mas ao desejo de alcançar um nível superior.
Recordou-se do período universitário quando Franz resistia a dar a conhecer os seus textos mesmo aos amigos mais próximos. Reviu-o a investigar durante horas, a consultar dicionários preocupado com a grafia ou a acepção correcta dos vocábulos ou ainda a verificar as provas quando aceitava publicar algum trabalho.
Lembrou-se também que o escritor redigia mais do que uma versão para os episódios das narrativas da sua autoria, hesitando, por vezes durante muito tempo no desfecho a dar-lhes. Dois dos seus romances permaneceram incompletos. A sua obra poderia ser caracterizada pela tendência fragmentária explicável pelo anseio frustrado de perfeição.
A leitura do texto agora desvendado demonstrava o modo profundamente sério como Franz vivia o acto da escrita, o carácter devorador que a literatura representou na sua existência eliminando todas as outras motivações até absorvê-lo por completo. Max leu: “Como não sou nem quero ser outra coisa a não ser Literatura e não posso nem quero ser outra coisa (...) A minha vida no fundo, consiste e consistiu sempre em tentativas de escrever."
(Continua...)
1. Apontamentos criativos/esboços literários.
2. Reflexões sobre filosofia e estética.
3. Estudos de história e filosofia da neurologia, psiquiatria e questões de género.
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1.1.
Após a esperada morte de Franz e mais familiarizado com a dor provocada pela perda do seu amigo, Max começou a organizar os papeis do falecido. Estava embrenhado nessa tarefa quando encontrou um volumoso conjunto de folhas de papel almaço entre um molho de documentos e folhas brancas dentro de uma gaveta da papeleira do quarto de Franz. Abriu as folhas de papel almaço, leu os desabafos e projectos ali registados. Emocionado com a descoberta do diário do escritor, Max logo pensou na possibilidade de publicá-lo. Mas, de imediato evocou a imagem do amigo a pedir-lhe para queimar todos os seus textos.
No entender de Max a recusa de Franz quanto à divulgação e publicação das suas obras seria fruto do seu perfeccionismo. A pretensão de destruir a sua produção não se devia ao facto de julgá-la desprovida de mérito mas ao desejo de alcançar um nível superior.
Recordou-se do período universitário quando Franz resistia a dar a conhecer os seus textos mesmo aos amigos mais próximos. Reviu-o a investigar durante horas, a consultar dicionários preocupado com a grafia ou a acepção correcta dos vocábulos ou ainda a verificar as provas quando aceitava publicar algum trabalho.
Lembrou-se também que o escritor redigia mais do que uma versão para os episódios das narrativas da sua autoria, hesitando, por vezes durante muito tempo no desfecho a dar-lhes. Dois dos seus romances permaneceram incompletos. A sua obra poderia ser caracterizada pela tendência fragmentária explicável pelo anseio frustrado de perfeição.
A leitura do texto agora desvendado demonstrava o modo profundamente sério como Franz vivia o acto da escrita, o carácter devorador que a literatura representou na sua existência eliminando todas as outras motivações até absorvê-lo por completo. Max leu: “Como não sou nem quero ser outra coisa a não ser Literatura e não posso nem quero ser outra coisa (...) A minha vida no fundo, consiste e consistiu sempre em tentativas de escrever."
(Continua...)
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