3.

3.2.

Antropomorfização e género na actividade científica

Resumo


No presente estudo pretendemos apresentar algumas das formas de projecção da imagem e o estatuto da mulher no estudo dos fenómenos naturais e psicológicos na história da ciência, sobretudo, a partir da Idade Moderna até ao século XX. Neste sentido, referem-se teses de alguns dos autores mais marcantes para o desenvolvimento do saber ocidental. Descrevemos ainda casos exemplares de exclusão das mulheres das instituições e das práticas científicas, bem assim como as consequências de tal exclusão.

As projecções de género no estudo da natureza
A ciência emergente, a partir do século XVII, declarou-se imune à antropomorfização, considerada legítima nos domínios da literatura e da mitologia, admitindo no entanto, o uso consciente e deliberado de metáforas, quando consideradas necessárias para a ilustração, mais fácil compreensão e divulgação de conceitos e teorias. Contudo, subrepticiamente, o vírus da antropomorfização permaneceu latente e continuou a contagiar a conceptualização, quer científica quer filosófica, determinando as cosmovisões dominantes.
A análise, descodificação e desmontagem das estratégias da antropomorfização apresenta-se como uma linha de investigação bastante profícua e reveladora da História e Filosofia da Ciência. Trata-se de uma problemática muito vasta e complexa, subjacente à prática e teorização científicas na globalidade, pelo que o presente texto incidirá apenas sobre o fenómeno da interpretação e concomitante explicação sexista da natureza.
Na cultura ocidental é frequente projectar a sexualidade humana na natureza e percepcioná-la de acordo com as noções de masculinidade e feminilidade em voga (Aristóteles, Bacon, Lineu, Darwin e Freud, entre outros). As diferentes noções de natureza e de ciência derivariam assim de diferentes definições de feminino, embora a totalidade das implicações e consequências da relação mulher natureza não tenham sido exploradas, referem-se seguidamente algumas dessas ligações.
A representação da natureza, perspectivada enquanto objecto, identificar-se-ia com a figura feminina sendo o sujeito da investigação o cientista/homem. A natureza, analisada e dissecada, explorada e controlada, desnudada, é mesmo na terminologia veementemente masculina de Bacon, desvendada, violada, penetrada nos seus recantos mais íntimos, uma clara referência às metáforas do estupro, no entender de Carolyn Merchant.
Segundo Gaston Bachelard um fenómeno como o fogo foi masculinizado, sendo frequentemente associado às qualidades de força, de coragem, ardor e virilidade:

As mulheres, devido ao temperamento frio e húmido são menos fortes que os homens, mais tímidas e menos corajosas, porque a força, a coragem e a acção vêm do fogo e do ar, que são elementos activos; e por isso chamados machos: e os outros elementos, a água e a terra, elementos passivos e fêmeas.

O estudo dos primatas no século XVIII teria sido igualmente condicionado pelo antropomorfismo sexista vigente: enquanto os machos seriam caracterizados como tendo um comportamento viril, agressivo e dominador, a conduta das fêmeas seria descrita em termos de modéstia, docilidade, timidez, enfim as qualidades do ideal de mulher da época. As ilustrações reflectiam estas concepções, deformando mesmo o objecto observado, natural ou reproduzido a partir de uma gravura já existente. Questões do tipo se as fêmeas teriam orgãos sexuais e ciclos reprodutivos semelhantes aos das mulheres, entre outras do mesmo teor, constituíam as grandes preocupações gnoseológicas dos naturalistas europeus de então.
A mistura de biologia e erotismo seria característica da mentalidade do século XVIII, representando a história natural, por ser a secção mais descritiva das ciências naturais, a sua extrema materialização.
A natureza apareceria também perspectivada como um espelho dos sentimentos humanos ou como um escape da vida social. A linguagem acerca da natureza era fortemente dicotómica: a mulher e, consequentemente, a feminilidade eram identificadas com a natureza, o homem com a cultura, o corpo opunha-se à mente, as paixões e os sentimentos à razão, o interior ao exterior, o privado ao público, a família à sociedade.
A botânica constituiu, deste modo, um campo privilegiado de antropomorfização, de transposição e projecção dos padrões de cultura vigentes na natureza. A reprodução sexuada das plantas já era do conhecimento do Mundo Antigo, embora não constituísse um centro de interesse. Os botânicos renascentistas nomearam os elementos sexuais das flores, mas sem os associarem à reprodução.
De acordo com Londa Schiebinger os estudos sobre a sexualidade das plantas eclodiriam nos séculos XVII e XVIII e o seu estudo consistiu na transposição quase directa da anatomia e fisiologia sexual humanas para o Reino Vegetal — La Mettrie, S. Vaillant, C. Geoffroy, N. Grew, Lineu, entre outros. Foi dada preferência à análise da reprodução sexuada, sobretudo heterossexual — verificou-se mesmo uma certa resistência em aceitar o hermafroditismo de algumas plantas — em detrimento da não sexuada ou assexuada, como era designada. A terminologia introduzida por Lineu no sentido de descrever as relações genésicas entre as plantas reflecte a primazia concedida à heterossexualidade, referindo-se às núpcias e ao casamento entre as plantas e substituindo os termos estame e pistilo por andria e gynia, do grego marido e mulher. Os nomes das classes terminavam em andria e os das ordens em gynia.
Até mesmo a sexualidade vegetal seria legitimada pelos laços do matrimónio e obedeceria a elaborados rituais. As plantas praticariam a monogamia — caso da classe única Monandria com apenas um estame ou marido — e a poligamia — caso da Diandra com dois estames numa flor com um só pistilo. Tratava-se de uma abordagem puramente morfológica, limitando-se ao número e modo de uniões que não captaria o fundamental das funções sexuais.
O recurso a uma linguagem emotiva e sentimental nas descrições de fenómenos naturais pode observar-se também em publicações recentes de natureza científica — principalmente de divulgação e com objectivos óbvios — e de que é exemplo elucidativo o seguinte extracto da obra de J. M. Pelt e J. P. Cuny, A Prodigiosa Aventura das Plantas:
Investigadores alemães e americanos filmaram, ao microscópio, o verdadeiro ballet de amor a que se entregam as células masculinas e femininas de uma alga laminar. É fascinante. Vê-se uma grande célula feminina, rodeada de uma imensidão de pretendentes masculinos, muito mais pequeno, às voltas em torno dela. Finalmente um só pretendente é escolhido. Os outros enjoados, vão dar uma volta. Vá-se lá saber qual o subtil processo químico , qual o critério que fez com que um desses «machos microscópicos» tenha sido considerado melhor do que os outros pela célula feminina. De qualquer maneira, foi manifestamente «ela» que escolheu! Depois disto vai nascer uma alguinha.

Na perspectiva de Londa Schiebinger podem distinguir-se dois níveis na política sexual da botânica moderna: o uso explícito de metáforas para introduzir as noções de reprodução das plantas na literatura botânica e o uso implícito do género para estruturar a taxonomia desta área científica.
De acordo com a referida autora seria possível analisar as perspectivas sobre as diferenças entre os sexos, sobre o estatuto da mulher e sua evolução, em suma acerca do debate à volta da “questão da mulher,” através das metáforas e da linguagem antropomórfica presentes nas obras dos botânicos dos séculos XVII e XVIII.
De igual modo, seria detectável a intenção implícita de transpor para a botânica as noções tradicionais de hierarquia sexual, sendo disso representativa a taxonomia de Lineu. No seu sistema, o número de estames determinava as classes e o número de pistilos as ordens, ou seja, ele atribuía prioridade às partes masculinas das plantas sem qualquer tipo de justificação empírica subjacente.
O sistema de classificação sexual de Lineu generalizou-se e foi adoptado em quase toda a Europa, à excepção de França onde pontificava o seu maior rival, Buffon. No entanto, surgiram algumas críticas anti-sexualistas: William Smellie, acusou Lineu de ser um romancista obsceno, cujas analogias estariam para além dos limites impostos pela decência; o Revd. Samuel Goodenough afirmou que os primeiros princípios da botânica lineana seriam suficientes para chocar a modéstia feminina; e mesmo Goethe defendeu que a inocência das jovens não deveria ser exposta a este tipo de trabalhos.
Contrariamente às tendências acima mencionadas, o avô de Charles Darwin, desenvolveu nas suas obras algumas das metáforas sexuais de Lineu, defendendo subrepticiamente o amor livre, tendo com esta atitude provocado a indignação do taxonomista sueco. Na sociedade inglesa desta época, o amor livre e a sexualidade eram aceites, discretamente, entre as elites, desde que não pusessem em causa a ordem social.
Aquando da Revolução Francesa, as mulheres não lograram alcançar os direitos políticos e os privilégios profissionais que esperavam. Pelo contrário, a separação dos poderes traçou limites específicos para as ambições e oportunidades das mulheres.
Após a Revolução Francesa deu-se uma alteração neste domínio, porque se passou a relacionar a libertação da mulher, o amor livre e as tendências democráticas com a eventual destruição da ordem social inglesa vigente — de que é representativo o Revd. Richard Polwhele e as suas invectivas contra o ensino do sistema sexual na botânica, bem assim como o seu ataque alegórico a Mary Wollstonecraft e a todas as suas discípulas.
No domínio da botânica, seguiu-se uma era em que as plantas eram muitas vezes desprovidas de sexualidade especialmente para as mulheres da classe média. Na perspectiva de Londa Schiebinger, Priscilla Wakefield seria representativa deste olhar. Na sua Introduction to Botany utilizou metáforas e comparações dessexualizadas: a antera não se assemelharia ao orgão sexual masculino, mas sim a uma espécie de caixa que se abriria quando estivesse cheia; designou ainda, a fertilização entre as plantas por comunicação. Coloca-se aqui uma questão pertinente, a utilização de uma linguagem dessexualizada resulta apenas do facto de Priscilla ser do sexo feminino, ou será antes uma consequência dos preconceitos vigentes na época que a impediriam de usar uma terminologia considerada licenciosa e imprópria para uma dama? Segundo ela não haveria nenhuma razão para distinguir as orquídeas fêmeas das orquídeas machos. Esta convicção terá resultado da observação, análise e comparação dos orgãos reprodutivos destas plantas com os de outras espécies ou terá sido motivada por outros factores?
A problemática em torno da existência ou não de uma forma de pensar, de sentir, de escrever, de um modo de agir e interpretar a realidade intrinsecamente femininos, é muito polémica e talvez insolúvel porque condicionada por variáveis de ordem filosófica, psicológica, sociológica e histórica.
A natureza, na perspectiva de Darwin, poderia ser também, e em oposição ao egocentrismo do homem, benevolente, sofredora e altruísta até, ordeira e maternal, uma mãe fecunda cuja função seria acolher, alimentar e proteger os seus filhos. Darwin, na esteira de Aristóteles, afirmou ser o sexo das crianças determinado pelos pensamentos do progenitor no acto da concepção. O filósofo grego foi autor da tese segundo a qual a forma da criança existiria na alma do homem, tendo a mãe a função de mero receptáculo. Aristóteles identificou a mulher com os seres monstruosos. Nesta medida a monstruosidade feminina seria considerada uma necessidade acidental da espécie e a masculinidade a norma.
A criação de Frankenstein, por Mary Shelley, rejeitaria a identificação aristotélica entre a mulher e os monstros, uma vez que o cientista homem engendrou e pariu sem mulher, uma criatura monstruosa. A personagem, criada por Mary Shelley, originou uma imagem de grande impacto na cultura ocidental. A sua mais recente manifestação teria sido materializada pelos cientistas que trabalharam no projecto da bomba atómica em Los Álamos. Os referidos investigadores descreveram a experiência como o parto do monstro, o bébé de Oppenheimer, a criança nascida do cérebro do cientista, apelativamente designada por Little Fat Boy. O nascimento da era nuclear surgiria ligado às metáforas da paternidade, dos cuidados maternos e a todo um imaginário familiar, que serviria para camuflar a morte e a destruição em massa que se seguiriam.
Nem mesmo o fundador da psicanálise e teórico da sexualidade infantil como princípio estruturador do psiquismo do adulto, escaparia à tentação sexista afirmando neste sentido que a rapariga, ao constatar a diferença entre os seus orgãos genitais e os do rapaz, se sente gravemente lesada e experimenta “a descoberta da castração:” “Ela sucumbe ao desejo do pénis que deixa traços indeléveis no seu desenvolvimento e na formação do seu carácter.” Esta falta teria diversas consequências: maior intensidade na vivência do ciúme, vaidade por necessidade de compensação e mesmo o pudor feminino seria causado pela vontade de disfarçar a ausência do orgão genital. O nascimento de um filho do sexo masculino proporcionar-lhe-ia uma grande felicidade porque lhe permitiria obter de certo modo o pénis tão desejado. Segundo Kate Millet as especulações de Freud são assaz contestáveis pois ele não analisou as causas histórico-sociais do pudor, santificando a opressão das mulheres nos termos da inevitável lei da biologia. Freud operou uma enorme confusão entre a biologia e a cultura, a anatomia e o estatuto; o que as mulheres desejam não é o pénis mas as compensações sociais que o pénis possibilita ao indivíduo. Roger Garaudy afirmou a propósito de Freud:

(...) quando abordou para o fim da sua vida, os problemas da psicologia feminina, não pôde superar o mito maior da cultura masculina: o homem representa a plenitude da humanidade e a mulher, não sendo um homem ou sendo fisicamente «incompleta», vive do desgosto de não ser um homem, quer dizer, na incrível estreiteza da definição puramente anatómica da diferença dos sexos em Freud, de não ter um pénis!

Verificar-se-ia assim, uma inversão perturbante, os fenómenos sociais seriam transferidos para os fenómenos naturais, que por sua vez seriam manipulados e adaptados às significações dominantes.

A exclusão das mulheres da actividade científica e as razões justificativas da mesma

From the medieval to the modern university, the history of women in these institutions has been the history of their exclusion. Yet this history has not been uniform or predetermined; certain times have favored women’s more than others.

Actualmente, há quem pense que a exclusão da mulher da ciência não constituía assunto de polémica antes do final do século XIX. Interrogam-se: se as mulheres não eram cientistas, qual é então o objecto de debate?
No entanto, os factos demonstram que nos séculos XVII e XVIII a participação da mulher na ciência era uma questão em aberto. A complexidade do processo de exclusão pode ser ilustrado por duas histórias correlacionadas: a construção dos fundamentos institucionais da ciência moderna durante as revoluções que marcaram as suas origens e as mudanças do destino da mulher dentro destas instituições.
A filosofia natural era em muitos sentidos um empreendimento novo na Europa do século XVII, lutando pelo reconhecimento contra as hierarquias estabelecidas. Importantes questões a propósito da natureza da nova ciência, dos seus objectivos, métodos e dos seus limites, estavam na ordem do dia. Os novos sábios puderam estabelecer novas instituições de acordo com as suas necessidades. Estas mudanças poderiam ter beneficiado as mulheres — antes confinadas, no que se refere às hipóteses de formação intelectual, ao convento, espaço que foi extinto em Inglaterra após a Reforma — uma vez que a ciência emergiu de um meio social privilegiado: a corte renascentista, por exemplo, onde as mulheres de elevada condição social, detinham poder, prestígio e proeminência intelectual. Contudo, quando o brilho da ciência ofuscou o da nobreza, a aristocrata perdeu o seu lugar na investigação científica. Os salões parisienses do século XVII, uma instituição feminina por excelência, irão funcionar como um centro de organização da vida intelectual, mas também terão uma duração breve e concomitantemente a função relevante das mulheres será anulada.
Desde sempre as mulheres foram impedidas de frequentar as universidades e foi-lhes negado o acesso às academias. Quer a Royal Society of London, quer a Académie Royale des Sciences ou ainda a Societas Regia Scientiarum de Berlim, entre outras academias europeias, não admitiam o ingresso das representantes do belo, frágil e fútil sexo. Exceptuam-se algumas instituições italianas onde pontificaram as seguintes damas: Bettisia Gozzadini, leitora em leis, na Universidade de Bolonha; Elena Cornaro Piscopia, a primeira mulher a receber o doutoramento em Filosofia, em Pádua; Maria Agnesi de Milão, distinta matemática, membro da Academia de Ciência de Bolonha, cujo trabalho foi traduzido para francês sob os auspícios da Académie Royale des Sciences, mas não foi convidada para membro da mesma, pelo simples facto de ser mulher e, por último, Laura Bassi, professora de Física na Universidade de Bolonha e membro da Academia de Ciência de Bolonha.
Na Alemanha, Dorothea Erxleben que conseguiu doutorar-se em Medicina e Dorothea Scholozer em Filosofia, também constituíram excepção: ambas tiveram formação académica, sendo as duas primeiras mulheres alemãs a alcançar uma graduação nas suas áreas, à custa do apoio incondicional dos pais, de numerosas petições e em circunstâncias e condições diferentes (adversas) das dos estudantes do sexo masculino.
Figuras femininas de elevado nível intelectual foram confinadas ao papel de assistentes dos membros da família, cientistas do sexo masculino, como é o caso de Madame Lavoisier ou Caroline Herschel, a primeira mulher a publicar artigos científicos nas Philosophical Transactions da Royal Society, da qual não era sócia, porque a referida sociedade só a partir de 1945 admitiu associadas. No entanto, a Royal Astronomical Society concedeu-lhe a sua Medalha de Ouro e elegeu-a seu membro honorário em 1835! As causas desta exclusão residiriam no facto das academias terem a sua origem nas universidades, onde as mulheres foram, desde a sua fundação, proscritas, com base nas teses de nomes sonantes como Aristóteles, Galeno, Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino e Kant, entre outros.
Apesar do seu afastamento forçado das academias e universidades, algumas damas desenvolveram trabalhos de pesquisa na “periferia,” como ilustradoras no caso de Madeleine de Basseporte e de Marie-Catherine Biheron, anatomista admirada devido ao realismo e perfeição dos modelos anatómicos em cera criados por ela. Outras, disfrutando da sua nobre posição social, investigavam como filósofas da natureza, caso de Margaret Cavendish, a hipotética feminista, que criticou a tese dualista alma/corpo cartesiana e defendeu a concepção segundo a qual a natureza seria constituída por matéria inteligente, composta por um número infinito de átomos inteligentes. Foi também incompreendida, embora generosa mecenas da Universidade de Cambrige. Outras ainda foram astrónomas, casos de Madame du Pierry, Nicole Lepaute e Madame Le Français de Lalande; tradutoras de textos químicos, Madame Lavoisier e Madame Thiroux d’Arconvillie; matemáticas premiadas, Sophie Germain e físicas newtonianas, Madame du Châtelet a mais célebre de todas elas, conhecida pelo seu papel de divulgadora da física newtoniana — a sua tradução dos Principia Mathematica é ainda considerada a tradução francesa padrão — e, pela sua ligação com Voltaire. Contudo, Emilie du Châtelet não era uma mulher verdadeiramente livre, (embora estivesse consciente de que a limitada contribuição das mulheres no domínio científico se devia à sua limitada educação) foi excluída da Académie e sofreu a pressão intelectual de Maupertuis e de Voltaire, seus guias espirituais.
Cristina da Suécia e Elizabeth da Boémia foram interlocutoras de Descartes, e Carolina de Gales, que desempenhou o papel de intermediária entre Leibniz e Newton, são também ilustres representantes de intelectuais oriundas da nobreza.
Todavia, a actividade científica das mulheres não se restringiu à aristocracia. Por exemplo, na Alemanha, a participação das mulheres estava relacionada com a sua condição de membros de associações e corporações profissionais e artesanais. Um facto relevante neste país era o elevado número de astrónomas, sendo que 14% de todos os astrónomos alemães, entre 1650 e 1710, eram mulheres.
As mulheres participavam na produção como filhas e aprendizes de que constitui exemplo, Maria Sybylla Merian, célebre entolomogista do século XVIII, ilustradora e inovadora no campo das técnicas de impressão, cuja obra científica mais relevante, Metamorphosis insectorum Surinamensium, foi elaborada no Suriname.
As mulheres investigavam ainda enquanto esposas que auxiliavam os maridos, caso de Maria Winkelmann, brilhante astrónoma. Teria sido apoiada por Leibniz, mas desprezada pela Academia de Ciências de Berlim, instituição que não aceitou os seus sucessivos pedidos para continuar a ocupar o lugar de assistente do astrónomo da academia, após a morte do marido, Gottfried Kirch. O cargo foi atribuído a um candidato incompetente e desleixado, mas homem, ao invés de colocar uma mulher com provas dadas, — incluindo a descoberta de cometas e elaboração de calendários — e com toda uma vida dedicada à observação astronómica. As filhas, tal como ela, só tiveram direito ao lugar de assistentes do irmão.
Outro factor relevante a ter em conta, no âmbito das contribuições para a ciência, foi o trabalho desenvolvido pelas artesãs, remuneradas ou não, caso das independentes ou viúvas que herdavam o negócio de família. Estas categorias reflectir-se-iam na definição do lugar da mulher na produção científica.
Muitas foram as razões invocadas para tentar justificar a exclusão de metade da humanidade das lides científicas e filosóficas. Rousseau (1712-1778), o pedagogo humanista e reformador do Iluminismo defendia que toda a educação das mulheres deveria ser em função dos homens. Agradar-lhes, ser-lhes úteis, fazer-se amar e respeitar por eles, elevá-los quando jovens, cuidar deles quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce: eis os deveres das mulheres de todos os tempos e o que elas deviam aprender desde a infância.
Enquanto o objectivo da educação de Emílio, o rapaz, cujo programa de formação é exposto ao longo de quatro livros, é preservar nele, mediante uma pedagogia adequada, o homem natural, indeterminado e livre; no caso de Sofia, a rapariga, opera-se uma inversão dos princípios educacionais preconizados até ao Livro V: a mulher é totalmente determinada pelo seu sexo e subordinada ao seu papel sexual. Ela vai ser educada para desempenhar a sua função de objecto de agrado para o homem e vai preocupar-se sobretudo com as aparências, ataviar-se, acreditar no que o pai ou o marido acreditam...
A mulher, naturalmente, não teria capacidades para se dedicar ao estudo da Física pois não seria capaz de abstracção, de generalização ou de especulação, não teria espírito crítico e tão pouco capacidade de concentração. Competiria ao homem descobrir as leis da natureza e à mulher estudar a mecânica do coração. A mulher complementaria o homem, no seu papel de mãe e esposa, ocupando uma esfera privada e familiar separada naturalmente da dele, pública e estatal. A concepção de complementaridade afastava a mulher da competição com o homem na esfera pública e era uma garantia meramente retórica de igualdade para as mulheres. Na realidade, elas não tinham direitos cívicos nem acesso às profissões liberais, mas tudo isto se fundamentava, segundo a comunidade científica, na sua própria natureza feminina.
Em 1792 Mary Wollstonecraft, na sua obra Uma Defesa dos Direitos da Mulher, submeteu a obra de Rousseau a uma dura crítica, relevando algumas das suas contradições. Mary demonstraria que o homem natural, emancipado e universal, seria afinal o homem ocidental do sexo masculino e burguês e que numa doutrina da igualdade e dos direitos do homem “os direitos da humanidade estão circunscritos à linha masculina de Adão em diante;” ora, prossegue, se a natureza humana é moldável através da educação e se a virtude se forma exclusivamente mediante o uso da razão estes princípios deveriam ser aplicáveis às mulheres, a não ser que se pretenda atribuir um género ao espírito e que a virtude e a verdade dependam do sexo de quem as pratica:

Tratadas como graciosos animais domésticos, habituadas à dissimulação, as mulheres são condenadas pelo seu destino sexual aos cuidados do presente e a não exercitarem as suas capacidades intelectuais enquanto o homem é adestrado e educado para o futuro.

Kant (1724-1804), o filósofo crítico, vai quanto a este tema prescindir do uso autónomo da razão e seguir à letra as prescrições de Rousseau, elaborando máximas do tipo: “As mulheres instruídas usam os livros como se de um relógio se tratasse: trazem-no consigo, para que possa ser visto, pouco lhes importando que não esteja certo (...)” ou, “A uma mulher que à semelhança da senhora Dacier, fale como um grego ou que , tal como a marquesa du Châtelet, discuta problemas de mecânica, falta apenas uma barba para exprimir melhor o espírito profundo a que aspiram.” E, para finalizar, “A mulher deve reinar; o homem, dominar. É que o gosto reina, o entendimento governa.”
Neste contexto, August Schlozer, professor de história da universidade de Gottingen, efectuou uma experiência científica, servindo-se da sua filha como instrumento pedagógico, no intuito de provar que Rousseau e Basedow (1723-1790) estavam errados quanto às suas teses acerca das diminutas capacidades intelectuais do sexo feminino. A sua filha Dorothea Scholozer, recebeu uma educação esmerada e completa, tendo obtido o primeiro diploma universitário em filosofia e transformando-se, simultaneamente, numa perfeita futura dona de casa e numa pensadora.
Rousseau criticou a influência das mulheres proporcionada pelos salões parisienses — influência por ele classificada de antinatural — e do seu estilo no comportamento masculino, defendeu mesmo que eram a causa da decadência das artes e letras francesas. O autor de Emílio, à semelhança dos intelectuais ingleses e alemães que caracterizavam negativamente o temperamento francês como especulativo, efeminado, caprichoso e volúvel em contraste com o espírito pragmático e viril inglês — defendia um estilo de ensino e de escrita vigoroso e másculo oposto ao estilo refinado, galante e feminino, implementado nos salões. Quando se pretendia denegrir algo ou alguém, rotulava-se de femininos os alvos de crítica. .
A busca de provas experimentais para legitimar a inferioridade da mulher, bem assim como a sua natureza intrinsecamente acientífica, tornar-se-ia uma constante na investigação científica do século XVII ao século XX. Desde o estudo da sexualidade e reprodução, passando pelo dos músculos até ao do esqueleto — o da mulher distinguir-se-ia devido à maior dimensão da bacia e ao menor tamanho do crânio, das costelas e das omoplatas, sendo estas medidas exageradas, indevidamente generalizadas e por vezes deturpadas, consoante as conveniências em jogo — tudo se tornava objecto de minuciosas pesquisas e constituiria mais um facto comprovativo das referidas teses.
Tudo na mulher, em termos anatómicos e fisiológicos, era adjectivado de infantil e frágil. Um facto aparentemente intrigante é que foi precisamente uma mulher, a anatomista Marie Thiroux d’Arconville, uma das responsáveis pela construção destas representações, através das suas notáveis e apreciadas ilustrações de esqueletos humanos masculinos e femininos, ilustrações essas em que apesar da finura do traço e da alegada reprodução a partir do real, as marcas da masculinidade e da feminilidade eram enfatizadas.
Estabeleceu-se uma relação de causalidade entre diferenças físicas e diferenças sociais, legimitando-se deste modo a redução de direitos e a exclusão das mulheres. Este mesmo sexismo continua a vigorar actualmente e influenciou a selecção das prioridades na investigação. Assim, a premissa de que as mulheres não são capazes de contribuir para a investigação científica, tem orientado muitos investigadores a procurar determinantes naturais demonstrativas da superioridade do homem no domínio científico, em detrimento do estudo de eventuais afinidades existentes entre os sexos neste sector. A pesquisa de causas relacionadas com o sexo (uma hormona ou diferenças cerebrais, por exemplo) que explicassem a origem da hipotética inferioridade biológica das mulheres para realizarem actividades científicas, prossegue hodiernamente, nomeadamente no respeitante às aptidões vísuo-espacial e analítico-matemática associadas à eficiência científica. Contrariamente às tendências contemporâneas atrás mencionadas, nos primórdios do século XVIII as mulheres eram encorajadas a estudar matemática e a aperfeiçoar as suas habilidades nesta área. Em 1709, no quinquagésimo volume do jornal britânico The English Ladies’Diary, o editor John Tripper anunciou que dado que as damas pareciam preferir a matemática à cozinha, o jornal iria dedicar-se exclusivamente aos enigmas e questões aritméticas.
Posteriormente, em 1718, outro editor do mesmo jornal, Henry Beighton afirmou que as mulheres tinham um génio penetrante, raciocínios claros, faculdades de discernimento e sagacidade semelhantes às dos homens e capacidade para solucionar os problemas mais difíceis. A recomendação do estudo das matemáticas às mulheres tinha também motivações ocultas: os conhecimentos de contabilidade eram muito importantes para a esposa de um homem de negócios. Por outro lado, as matemáticas estavam ao alcance das mulheres, desprovidas de poder económico, porque o seu estudo não requeria nem muito equipamento nem uma grande biblioteca. É caso para comentar, mudam-se os interesses, mudam-se as capacidades das mulheres ...
Um caso exemplificativo de exclusão ocorreu aquando do desenvolvimento da medicina nas áreas da ginecologia e obstetrícia. As parteiras foram compulsivamente afastadas, sendo rejeitadas as suas petições no sentido de lhes ser facultada formação adequada, tendo-lhes sido mesmo negada a possibilidade de constituírem uma corporação. Em suma, acabaram por ser excluídas de uma profissão tradicionalmente feminina, precisamente com o argumento de que não tinham preparação adequada: “Os médicos, no século das Luzes, não se cansaram de denunciar a embriaguês, a imperícia e a estupidez das parteiras, que favoreciam também com a sua ignorância a manutenção das superstições e dos preconceitos.” O que é facto é que as mulheres, em 1844, ainda morriam de febre puerperal, porque os médicos não lavavam adequadamente as mãos, quando iam assistir a um parto após uma autópsia:

(...) Porque ele e os seus assistentes tinham o hábito de entrar nas salas de trabalho de parto depois de terem feito dissecações no anfiteatro de anatomia, e examinar as mulheres em trabalho, tendo lavado as mãos de maneira superficial. (...) Semmelweis prescreveu que todos os estudantes lavassem as mãos numa solução de cloreto de cal antes de examinar uma doente. A mortalidade devido à febre puerperal começou rapidamente a baixar (...) Semmelweis dá conta do facto da mortalidade no serviço ter sido sempre nitidamente inferior. Aí as doentes estavam entregues a parteiras, cuja formação não incluia a dissecação de cadáveres.

Se tivermos em conta que uma das condições requeridas para o exercício do ofício de parteira era ostentar um mínimo de higiene e ter as unhas aparadas, para além de outras qualidades como a robustez, a saúde e a experiência pessoal das dores do parto, não pode deixar de ser com surpresa que pensamos o seu afastamento. Outra das consequências verificou-se ao nível do menor conhecimento e domínio do próprio corpo e ainda na diminuição do controle da natalidade, por parte das mulheres.
Exemplar é ainda o facto da “cozinha medicinal,” actividade tradicionalmente feminina ligada à medicina, que ao ser legalizada como profissão tomando o nome de farmácia, teria sido gradualmente retirada do domínio das mulheres.
Na psiquiatria emergente o comportamento feminino foi classificado de acordo com categorias como: fragilidade, infantilismo, instabilidade, degenerescência, histeria, castração/ressentimento, morbilidade, vulnerabilidade, entre outras. Nas concepções dominantes prevalecia a convicção que corpo e a mente da mulher seriam naturalmente insanos uma vez que as funções reprodutivas femininas, da puberdade à menopausa eram consideradas patológicas. As referidas concepções justificavam a atribuição de um estatuto inferior às mulheres e a sua necessária submissão. De Esquirol (1772-1840) a Freud (1856-1939).
Em estudos, mais recentes, efectuados por alguns psicólogos, observa-se alguma parcialidade na interpretação dos dados: quando confrontados com a verificação frequente de que em média as raparigas são verbalmente superiores aos rapazes no respeitante à idade de início da fala e à fluência verbal, explicam estes factos como sendo justificativos da actual divisão desigual do trabalho de cuidar dos filhos. Argumentam afirmando que a maior capacidade verbal torna as mulheres mais aptas para criar e ensinar os filhos. Mas é negligenciado o facto de esta leitura dos dados contradizer a sensatez da divisão das tarefas tanto quanto tem como resultado a menor representação das mulheres na vida política, nos negócios e na ciência, onde a sua superioridade verbal as deveria beneficiar.
A concluir este ponto são de realçar, positivamente, as obras e atitudes de intelectuais como François Poulain de La Barre, cartesiano, autor da obra De l´Egalité des Sexes -1673, defensor da ideia de que a mente não tem sexo, fundamentada em observações anatómicas. Condorcet, paladino da luta pela igualdade de todo o género humano, mostrou-se partidário do sufrágio universal em Sur la Admission des Femmes au Droit de Cité. Neste sentido, defendeu que as desigualdades entre os sexos se baseariam apenas no abuso da força física, concepção expressa na obra, Esquisse d’un Tableau Historique des Progrès de l’Esprit Humain. Condorcet afirmou que, se há poucas mulheres a destacar nas ciências e artes, o mesmo se verifica relativamente aos homens. Luis António Verney, reformador mais coerente do que Rousseau, na Carta XVI do Verdadeiro Método de Estudar, discute a educação da mulher. Nega que ela seja intelectualmente inferior ao homem, reconhece-lhe a necessidade de estudos e traça- lhe um programa, um tanto rudimentar. John Stuart Mill preconizou em The Subjections of Women, em 1826 o sufrágio universal e o direito das mulheres ao divórcio e ao controlo dos nascimentos. Contemporâneos de outros homens e mulheres sexistas e apologistas da segregação, eles superaram a mentalidade e alguns dos valores dominantes na sua época.




O Género na ciência - consequências de uma exclusão

A questão do envolvimento da mulher na ciência, não se limita a uma questão de igualdade, nem sequer uma questão de poder do homem, trata-se de uma questão de conhecimento.
Londa Shiebinger colocou a seguinte questão: se houvesse mulheres entre os taxonomistas do século XVIII, os debates sobre a sexualidade das plantas e a posição dos organismos femininos na natureza teriam sido diferentes?
As mulheres dos séculos XVII e XVIII enfrentaram problemas comuns devido ao seu sexo, mas o seu destino dependeu também da sua posição social, do seu local de residência, do seu estatuto marital e da sua personalidade, factores que originaram diferentes reacções à discriminação, determinaram o tipo de ciência que fizeram e o modo como a fizeram.
O cerne do problema consiste em apreciar de que modos o conhecimento foi moldado historicamente: construído por quem está na ciência e por quem é dela excluído, pelos projectos que são aceites ou ignorados, pelas experiências que são validadas ou não, por quem ganha e por quem perde.
O sexo dos cientistas não é necessariamente determinante dos resultados da ciência. No entanto, devemos reconhecer que a cultura ocidental está profundamente marcada pelas diferenças de género. Ao marginalizar as mulheres da ciência, a cultura europeia perdeu parte do seu passado.
Muitas vezes os mal entendidos científicos fundamentais acerca de machos e fêmeas plantas e animais, resultam da projecção dos modelos e ideais de feminilidade e masculinidade da classe média moderna. Ideais esses que mistificam o papel da mulher e impedem a sua inserção condigna no mundo da ciência. A ciência, os seus métodos, as suas prioridades e instituições, deverão adaptar-se às mulheres e aos seus problemas e sentirem-se bem com isso. Os cientistas deveriam reconhecer não só de que modo a História moldou o presente, mas também o que tem constituído objecto de estudo e o que tem sido negligenciado, quem faz as investigações e com que objectivos.
O processo de construção do ser homem e do ser mulher é marcado por uma hierarquização dos atributos masculinos e femininos, favorável aos primeiros e condicionador das oportunidades das mulheres em todos os contextos que exigem qualidades e competências que não são constituintes da convencionada “natureza feminina.” Veja-se, por exemplo, a concentração das mulheres nas ciências soft e a dos homens nas hard, ou ainda a maior percentagem de homens nos níveis de topo das carreiras universitárias e nas instituições mais prestigiadas .
A profissionalização da ciência e a exclusão da esfera doméstica que ela implicou, permite explicar a segregação das mulheres, como é demonstrado através das biografias de mulheres cientistas, cujas carreiras, não obstante um contexto social muito desfavorável, se desenvolveram devido fundamentalmente a factores da vida pessoal e familiar.
A neutralidade da ciência não é possível se determinados grupos, temáticas e problemas forem sistematicamente excluídos das suas instituições e projectos de investigação.
Uma vez que é precisamente a reivindicação de neutralidade dos cientistas que dá tanta consistência e autoridade às explicações que estes elaboram a partir dos dados experimentais, continua a ser pertinente questionar a ciência no seu próprio terreno e alertar para as situações em que ela se desvia dos seus cânones de imparcialidade quer na prática profissional quer na selecção e interpretação dos factos, como acontece quando a ciência é contaminada pela prática de discriminação sexual na sociedade. Neste sentido, declarou Jordanova:

Apesar de a ciência envolver tanto sentimentos subjectivos quanto racionalidade objectiva, estes aspectos da sua actividade têm sido polarizados : o primeiro tem sido considerado antitético, e por isso é mantido ausente; da ciência e da sua procura de objectividade e neutralidade. Esta polarização é em si mesma um efeito da divisão entre a produção e a reprodução. A consequência ideológica de uma divisão (entre produção e reprodução) que identificou os homens com a produção e as mulheres com a reprodução foi uma bifurcação entre teoria e prática, objectividade e subjectividade, razão e sentimento e entre individualidade e mutualidade; mesmo estando todos estes conceitos igualmente implicados nos dois processos.

Logo :

HOMENS
MULHERES

Produção : Ciência
Progresso
Reprodução : Natureza
Conservadorismo

Teoria : objectividade
Racionalidade individualista
Preocupações práticas: subjectividade
Sentimentalismo mutual

Esta divisão desencadeou efeitos perniciosos na actividade e no desenvolvimento científicos, conduzindo muitos cientistas, homens e mulheres, a concentrarem-se apenas no comportamento individual dos respectivos objectos de estudo negligenciando a sua interacção e interdependência mútuas.
Cabe à comunidade científica descodificar os modos como os padrões de objectividade e neutralidade são utilizados na mistificação das actuais relações da ciência com a sociedade. O objectivo não será o de rejeitar os critérios vigentes e os substituir por um relativismo que valide igualmente o sexismo e o feminismo, mas antes o de identificar e combater as materializações e objectivações do sexismo, inclusivamente as dicotomias, sejam elas de foro ideológico ou prático, entre produção e reprodução .























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