Confidências e Desabafos de Savarin (67)
Cognac e Porto
Aqui fica mais um delicioso texto de Egas Moniz, requintado gourmet, dedicado, em especial aos apreciadores de bom vinho do Porto:
Uma vez, depois dum jantar a que assistiam vários neurologistas estrangeiros, Heri Babinski fez a apologia dum magnífico cognac do tempo do Império, que era, de facto, precioso pelo bouquet equilibrado e exquis. Falámos do nosso Porto, mas não consegui levar o grande gourmet a dar-lhe a consideração que merecia. Quando regressei a Portugal seleccionei duas caixas do melhor vinho do Porto que pude obter, para o que pedi a colaboração dum amigo, reputado apreciador do estimado vinho do Douro. Enviei-as ao autor de Gastronomie Pratique. Nesse mesmo ano tive de voltar a Paris e fui, como era habitual, convidado para um almoço, desta vez apenas para julgarmos o vinho oferecido, disse Henri. Ao último prato, apareceu o vinho, que foi largamente apreciado pelos irmãos Babinski e por Picard, velho e familiar amigo, também apreciador destes ágapes. Ao sair da casa de jantar, pedi, particularmnte, ao criado que não retirasse da mesa os copos que tinham servido o Porto. E seguimos para outra sala, onde foi servido o café acompanhado do precioso cognac.
(...)
Aproveitei o momento do final da conversação para levar da mesa os dois copos onde passara o vinho do Porto. Pedi então que apreciassem ainda o bouquet que deles dimanava, apesar de estarem há muito vazios e como ainda o precioso aroma embalsamava o ambiente austero da sala de mesa. Então, sim, todos concordaram na excelência do vinho português.
- Mas desta qualidade nunca o tinha bebido - disse o engenheiro Henri.
- Também - respondi - cognac como o que me deu só aqui o saboreei.
E ficámos reconciliados. Desde esse dia Henri passou a dar ao vinho do Porto a categoria a que tem incontestável direito.
Egas Moniz, Confidências de um Investigador Científico, (Lisboa, Edições Ática, 1949), pp.74-75
Cognac e Porto
Aqui fica mais um delicioso texto de Egas Moniz, requintado gourmet, dedicado, em especial aos apreciadores de bom vinho do Porto:
Uma vez, depois dum jantar a que assistiam vários neurologistas estrangeiros, Heri Babinski fez a apologia dum magnífico cognac do tempo do Império, que era, de facto, precioso pelo bouquet equilibrado e exquis. Falámos do nosso Porto, mas não consegui levar o grande gourmet a dar-lhe a consideração que merecia. Quando regressei a Portugal seleccionei duas caixas do melhor vinho do Porto que pude obter, para o que pedi a colaboração dum amigo, reputado apreciador do estimado vinho do Douro. Enviei-as ao autor de Gastronomie Pratique. Nesse mesmo ano tive de voltar a Paris e fui, como era habitual, convidado para um almoço, desta vez apenas para julgarmos o vinho oferecido, disse Henri. Ao último prato, apareceu o vinho, que foi largamente apreciado pelos irmãos Babinski e por Picard, velho e familiar amigo, também apreciador destes ágapes. Ao sair da casa de jantar, pedi, particularmnte, ao criado que não retirasse da mesa os copos que tinham servido o Porto. E seguimos para outra sala, onde foi servido o café acompanhado do precioso cognac.
(...)
Aproveitei o momento do final da conversação para levar da mesa os dois copos onde passara o vinho do Porto. Pedi então que apreciassem ainda o bouquet que deles dimanava, apesar de estarem há muito vazios e como ainda o precioso aroma embalsamava o ambiente austero da sala de mesa. Então, sim, todos concordaram na excelência do vinho português.
- Mas desta qualidade nunca o tinha bebido - disse o engenheiro Henri.
- Também - respondi - cognac como o que me deu só aqui o saboreei.
E ficámos reconciliados. Desde esse dia Henri passou a dar ao vinho do Porto a categoria a que tem incontestável direito.
Egas Moniz, Confidências de um Investigador Científico, (Lisboa, Edições Ática, 1949), pp.74-75
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