Almond Blossoms (2)
No Delicacies
Nothing pleases me anymore.
Should I
dress up a metaphor
with an almond blossom?
crucify syntax
on a light effect?
Who would rack their brains
over such superfluous things--
I have learned an understanding
with the words
that exist
(for the lowest class)
hunger
disgrace
tears
and
darkness.
With the uncleansed sob,
with despair
(and one day despair will drive me to despair)
in the face of all this misery
the number of sick, the cost of living,
I will manage.
I don't neglect writing,
I neglect myself.
The others
Lord knows
can use words to get by.
I am not my assistant.
Should I
take thought captive, march it
to an illuminated sentence cell?
feed eye and ear
with the choicest word morsels?
research the libido of a vowel,
calculate the collector's value of our consonants?
With this head crushed by hail,
with writer's cramp in this hand,
under the pressure of three hundred nights,
must I
tear the paper,
wipe away the instigated word-operas,
thereby destroying: I you and he she it
we you?
(Should really. The others should.)
My part, let it be lost.
Ingeborg Bachmann, translated by Margitt Lehbert
Sem acepipes
Já nada me agrada.
Deverei eu
enfeitar uma metáfora
com uma flor de amendoeira?
Crucificar a sintaxe
sobre um efeito de luz?
Quem é que vai quebrar a cabeça
com coisas tão fúteis?
Aprendi a entender as coisas
com as palavras
que existem
(para a classe mais baixa)
Fome
Vergonha
Lágrimas
e
Trevas.
Com o soluço impuro,
com o desespero
(e eu desespero ainda com o desespero)
por tanta miséria
pelo estado do doente, pelo custo da vida,
sobreviverei.
Não descuido a escrita
mas a mim.
Os outros sabem
sabe Deus
o que fazer com as palavras.
Eu não sou o meu médico assistente.
Deverei eu
prender um pensamento,
conduzi-lo à cela iluminada de uma frase?
Alimentar o olhar, o ouvido
com nacos de palavras de primeira qualidade?
Estudar a libido de uma vogal?
Investigar a cotação erótica das nossas consoantes?
Terei eu,
com a cabeça desfeita pelo granizo,
com a cãibra da escrita nesta mão,
sob o peso de trezentas noites,
de rasgar o papel,
varrer as tramas de operas de palavras,
destruindo assim: eu tu e ele ela isso
nós vós?
(Devo. Devem os outros.)
A minha parte - que desapareça!
Tradução de Judite Berkemeyer e de João Barrento, Ingeborg Bachmann, O tempo aprazado, (Lisboa,Assírio & Alvim, 1992).
Keine Delikatessen
Nichts mehr gefällt mir.
Soll ich
eine Metapher ausstaffieren
mit einer Mandelblüte?
die Syntax kreuzigen
auf einen Lichteffekt?
Wer wird sich den Schädel zerbrechen
über so überflüssige Dinge -
Ich habe ein Einsehen gelernt
mit den Worten,
die da sind
(für die unterste Klasse)
Hunger
Schande
Tränen
und
Finsternis.
Mit dem ungereinigten Schluchzen,
mit der Verzweiflung
(und ich verzweifle noch vor Verzweiflung)
über das viele Elend,
den Krankenstand, die Lebenskosten,
werde ich auskommen.
Ich vernachlässige nicht die Schrift,
sondern mich.
Die anderen wissen sich
weißgott
mit den Worten zu helfen.
Ich bin nicht mein Assistent.
Soll ich
einen Gedanken gefangennehmen,
abführen in eine erleuchtete Satzzelle?
Aug und Ohr verköstigen
mit Worthappen erster Güte?
erforschen die Libido eines Vokals,
ermitteln die Liebhaberwerte unserer Konsonanten?
Muß ich
mit dem verhagelten Kopf,
mit diesem Schreibkrampf in dieser Hand,
unter dreihundertnächtigem Druck
einreißen das Papier,
wegfegen die angezettelten Wortopern,
vernichtend so: ich du und er sie es
wir ihr?
(Soll doch. Sollen die andern.)
Mein Teil, es soll verloren gehen.
Ingeborg Bachmann (1963)
Comentários